— Onde moro, há muitos outros metalúrgicos que nunca tinham ficado desempregados. Está muito ruim para quem vive da indústria. Meu irmão, que trabalha no setor químico, também perdeu o emprego, há dois meses. Comecei a tentar vaga no comércio, em supermercados. Não dá para ficar em casa olhando para a parede. Mas as vagas quase não aparecem e, quando consigo algo, é muito longe da minha casa e o patrão desiste de me contratar.

A procura mais longa por um novo emprego compromete investimentos pessoais em educação e a própria carreira, além de afetar a autoestima, diz André Portela, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo:

— Quando a pessoa volta ao trabalho, ela perdeu o que chamamos de estoque de capital humano, está fora de ritmo, com produtividade menor, pode ter perda de habilidades e precisa ser treinada novamente.

Ana Paula de Morais, de 34 anos, depois de trabalhar 11 anos em uma loja de departamentos na capital paulista, resolveu, no início do ano, buscar uma vaga na área de Recursos Humanos, cuja faculdade está prestes a concluir. Sua procura já dura sete meses.

— Estou tentando até estágio, mas querem experiência, e pega um pouco a questão da idade. Resolvi voltar a procurar na minha antiga área — conta Ana Paula, logo após participar de uma seleção para uma vaga em um hipermercado.

INFORMALIDADE AGRAVA CENÁRIO

Na Região Metropolitana de São Paulo, que tem a maior concentração de força de trabalho do país, essa procura mais longa é ainda mais evidente. O estudo mostra que, no primeiro semestre de 2013, praticamente um quarto dos desempregados na região conseguia outra vaga em um mês. Três anos depois, pouco mais de um quinto desse grupo leva entre 6 e 12 meses para obter outro emprego, e apenas 1/7 consegue vaga em até 30 dias.

Em Salvador, onde a informalidade é alta e o desemprego já supera 20%, a realidade é mais cruel. Além de a proporção de quem procura emprego por ao menos seis meses ter passado de 44,1% para 55,8%, o subemprego aparece com força.

— São pessoas que às vezes trabalham numa semana, mas, se a gente questiona sobre a semana seguinte, ela não sabe se terá trabalho — explica Lúcia, do Dieese.

Especialistas ressaltam ainda que, em uma recessão, os jovens, as mulheres, os negros e os profissionais menos qualificados são os que mais têm dificuldade para se recolocar.

— O mercado de trabalho organiza uma fila, que vai andando mais rápido para os que têm maior qualificação e ocupam posições mais estratégicas numa empresa — diz Amorim.