A economia deve levar pelo menos mais dois anos para que a massa salarial real –a soma dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores descontada a inflação– volte ao nível anterior à recessão, calculam economistas.
O indicador já encolheu quase R$ 10 bilhões desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014, quando a massa total atingiu o recorde de R$ 185,24 bilhões, de acordo com dados do IBGE com ajuste sazonal do Bradesco.
Octavio de Barros, economista-chefe do banco, projeta que o valor deve ser alcançado novamente somente no terceiro trimestre de 2018. Na avaliação do Santander, isso acontecerá apenas em 2019.
A massa salarial real deve demorar mais para superar a recessão porque o mercado de trabalho reage devagar a mudanças na economia. Por serem custosas ao empregador, decisões de contratação e demissão levam mais tempo para serem tomadas.
Essa recuperação lenta do indicador freia uma retomada mais vigorosa docrescimento econômico porque prejudica o poder de compra dos trabalhadores.
Com menos dinheiro para gastar, eles consomem menos, diminuindo a demanda interna –principal motor da economia brasileira.
CAUSAS
A variação negativa decorre tanto do aumento do desemprego quanto da diminuição dos valores pagos a quem segue ocupado.
Do lado da renda, a piora resulta da disparada da inflação, que corrói o valor real dos salários, e da falta de reajustes, uma vez que o número elevado de trabalhadores em busca de emprego enfraquece seu poder de barganha.
De acordo com levantamento do Dieese, 39% dos reajustes salariais negociados no primeiro semestre ficaram abaixo da inflação, enquanto 37% conseguiram apenas corrigi-la. Até 2014, mais da metade das negociações resultava em ganhos reais acima da inflação.
Outro problema é a rotatividade. “Os salários das pessoas recentemente admitidas vem mostrando uma variação negativa, enquanto salários de quem foi recentemente demitido têm variação positiva. É a substituição de mão de obra mais cara pela mais barata”, diz Rodolfo Margato, economista do Santander.
Essa troca deve dificultar a melhora da renda da população, diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.
“A inflação em queda tende a diminuir a pressão de perda salarial, mas não consegue compensar o desemprego e a rotatividade. Você perde intensidade na queda, mas ela continua”, afirma.
Do ponto de vista da ocupação, ainda que a atividade econômica cresça no início de 2017, como esperam analistas, a taxa de desemprego deve ficar estável em nível elevado no próximo ano.
“O mercado de trabalho vai conseguir absorver novos entrantes, mas não será suficiente para reduzir a taxa de desemprego”, afirma o economista e pesquisador da FGV Bruno Ottoni.
DESIGUALDADE
A diminuição nos salários e o aumento do desemprego atingem de modo diferente informais e formais, do setor privado e do setor público.
“A destruição de postos formais é mais difícil em razão dos custos de demissão e admissão. São categorias mais resilientes”, diz Margato, do banco Santander.
Entre aqueles com carteira assinada, porém, a desigualdade pode diminuir. “Vemos uma tendência nas negociações sindicais de reajuste menor entre os salários mais altos em comparação com os mais baixos. Mas isso não é uma redução virtuosa da desigualdade, porque você está achatando os salários do topo”, diz Lúcio, do Dieese.