Com o agravamento da crise política e o risco de o ano terminar sem uma sinalização clara de que o Orçamento de 2016 terá um superavit de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto), a equipe econômica avalia que o Banco Central pode não ter outra saída a não ser aumentar os juros no curto prazo.

Segundo a Folha apurou, assessores presidenciais não descartam que o BC eleve a taxa de juros já na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos dias 19 e 20 de janeiro.

A taxa Selic, referência no mercado, está hoje em 14,25% ao ano. Num cenário pessimista, mas tido como possível num cenário de desequilíbrio fiscal e nova perda do grau de investimento pelo país, técnicos temem que os juros cheguem a 16% ao longo do próximo ano.

Na semana passada, o Copom decidiu manter os juros inalterados, mas dois dos oito diretores votaram por um aumento de 0,5 ponto percentual –sinal de que uma elevação da taxa Selic para o ano que vem não está descartada.

Além disso, o BC decidiu retirar de seu comunicado a expressão de que manteria os juros no atual patamar “por um período suficientemente prolongado” –outra indicação de que pode subir a Selic.

Uma eventual alta nos juros é vista com ressalvas e críticas pela área política do governo Dilma, que teme um agravamento da recessão no país. Em 2015, a retração está estimada em mais de 3%. No ano que vem, em 2%.

RETORNO

Nesta terça (1º), a presidente Dilma volta de Paris para tentar articular a aprovação de medidas na área fiscal que acalmem o mercado e evitem a deterioração da economia.

A primeira missão da presidente é aprovar a mudança da meta fiscal de 2015, que permite ao governo abandonar o superavit prometido inicialmente de R$ 55,3 bilhões e fechar o ano com um deficit de até R$ 119,9 bilhões.

Sem a alteração da meta, o governo foi obrigado a bloquear nesta segunda (3) R$ 11,2 bilhões do Orçamento.

A expectativa do Planalto é que a medida, considerada extrema, convença aliados e oposição a aprovarem a proposta. Com isso, o governo poderia liberar os recursos bloqueados.

A presidente também buscará aprovar ainda neste ano a DRU (mecanismo que desvincula receitas da União e dá mais liberdade para o governo fechar suas contas).

Ela espera ainda persuadir aliados a aprovarem, em 2016, a recriação da CPMF.

Assessores presidenciais temem, porém, que novas revelações da Operação Lava Jato piorem o clima político neste final de ano, frustrando qualquer tentativa de aprovação de medidas fiscais.

Neste cenário, a equipe econômica acredita que as agências de classificação de risco podem antecipar suas decisões para o início de 2016 e rebaixar a nota brasileira, levando a um novo aumento do dólar. Isso pressionaria ainda mais a inflação, que vai fechar este ano acima de dois dígitos e pode superar em 2016 o teto da meta, de 6,5%.