Se não consegue emplacar suas metas, o Banco Central poderia ao menos dar coerência a suas explicações.
Ninguém espera que a reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) desta quarta-feira altere os juros básicos (Selic) que estão estacionados a 14,25% ao ano, um dos mais altos do mundo, numa situação em que os principais bancos centrais do mundo trabalham com juros próximos de zero por cento.
Mas o mercado interno monitorado pelo Banco Central enfrenta um punhado de distorções que envolvem diretamente a política monetária (política de juros).
A mais importante é a inflação que caminha quase inexoravelmente em direção aos dois dígitos, sem que a megadose dos juros básicos consiga baixá-la.
Há dez meses, o compromisso firme do Banco Central é chegar ao final de dezembro de 2016 com a inflação em 12 meses no centro da meta (4,5%). Mas ninguém mais acredita nisso. O Boletim Focus, onde o Banco Central registra as projeções de cerca de 100 instituições do mercado, mostrou nessa segunda-feira que a média das projeções aponta para uma inflação, ao final de 2016, de 6,12%, número algo abaixo dos 6,16% apontados pelas top five, as cinco instituições que se notabilizam pelo acerto nas projeções levantadas nessa pesquisa. Este não é desvio irrelevante. Mostra que o Banco Central não vem conseguindo gerenciar as expectativas, um dos objetivos mais importantes no sistema de metas de inflação.
Sobre essa discrepância, o Banco Central tem três caminhos a seguir: ou assumir que não conseguirá entregar a inflação na meta, como garantiu até agora e, nesse caso, terá de rever seus prazos; ou acenar para novo reforço de dose dos juros, para que o cumprimento da meta se torne outra vez possível; ou, então, demonstrar com argumentos sólidos que as projeções do mercado estão erradas e as dele, corretas.
A segunda discrepância é o impacto da desordem orçamentária sobre a inflação. Por meses a fio, o Banco Central tem repetido que a política fiscal caminha inexoravelmente para ser neutra, “no horizonte relevante”, em relação à inflação, ou seja, falta pouco para que a relação entre receitas e despesas do setor público se equilibre a ponto de não produzir inflação.
Essa postura irrealista vem tirando credibilidade do Banco Central. O principal fator de inflação é o desequilíbrio das contas públicas: as excessivas despesas do governo criam renda, renda cria demanda e, pelo efeito oferta-procura, demanda aquecida cria inflação.
Alguns economistas de peso têm advertido que o momento é de dominância fiscal, situação em que a política monetária perde capacidade de combater a inflação. Não é o que pensa o Banco Central, na medida em que continua acenando para o cumprimento da meta de inflação ao final de 2015.
Por isso, falta também apontar qual é o equívoco desses analistas que vêm apontando esse desvio e o que o Banco Central pode fazer para que o risco de que sobrevenha a dominância fiscal seja revertido.