A menor demanda global e o acirramento da competição em mercados estratégicos vêm forçando a indústria brasileira a exportar mais por menos. O preço médio da tonelada enviada pelo país ao exterior alcançou o menor nível desde 2009, quando o mundo ainda vivia os efeitos da crise financeira global.

O levantamento, feito pela Folha, considera os embarques de manufaturados, bens de alto valor agregado, de janeiro a setembro de cada ano.

Ele mostra que, em 2015, o Brasil recebeu, em média, US$ 1.500 por tonelada exportada –queda de 15% ante o ano passado. Em 2011, o preço médio chegou a US$ 2.000.

MAIS POR MENOS – O volume de manufaturados exportados aumenta, mas as receitas caem

Os dados indicam que a indústria vive um período de duplo aperto. Por um lado, o mercado está desaquecido. A OMC (Organização Mundial do Comércio) já reduziu sua expectativa de crescimento no comércio internacional de 4% para 2,8% –bem abaixo da média histórica de 5%.

Por outro, a perda de espaço em mercados estratégicos, como Europa e Argentina, força a redução de preços.

“Estamos vivendo a confluência perversa de competição forte e mercados deprimidos. Tivemos de acompanhar o ritmo de China e outros mercados e, para vender um pouco mais, baixar o preço”, diz Carlos Abijaodi, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

As montadoras com fábricas no Brasil tiveram de recorrer a esse expediente. Com o acirramento da crise na Argentina, grande comprador de manufaturados brasileiros, o setor sentiu o baque nas vendas no ano passado.

Em 2015, as empresas conseguiram ampliar ligeiramente o volume de automóveis de passageiros exportados, mas as receitas caíram quase 4%.

A situação se repete em diversos segmentos industriais, segundo dados da Funcex (que estuda o comércio exterior). As vendas de tubos de ferro ou aço, por exemplo, ficaram praticamente estáveis nos nove primeiros meses do ano, mas as o valor levantado em dólares caiu 24%.

Os embarques de motores e geradores elétricos caíram 7%. A redução do preço, contudo, foi ainda maior: 23%.

A queda do preço das commodities, que derrubou as vendas de produtos básicos, também afetou o resultado dos produtos industriais.

Isso porque, produtos como óleos combustíveis têm peso relevante na pauta de manufaturados. De janeiro a setembro, o país exportou volume quase 25% menor de diesel. As receitas com a venda despencaram 64%.

As produtoras brasileiras de açúcar refinado embarcaram 3% a mais de janeiro a setembro, por 15% a menos do valor vendido no mesmo período de 2014.

“Isso mostra os problemas com uma pauta refém de commodities. Mesmo no grupo dos manufaturados, temos um peso expressivo de produtos intensivos em recursos naturais”, afirma Abijaodi.

EXCEÇÕES

Apesar do cenário ruim, há exemplos de segmentos que conseguiram ampliar as exportações. Mas são quase exceções no “pelotão de elite” dos bens industriais.

Segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil elevou as vendas em dólares ao exterior em apenas 5 de 30 segmentos industriais (veja quadro ao lado).

O setor aeronáutico é o mais bem-sucedido da lista. De janeiro a setembro, os embarques de aviões aumentaram em volume relação ao mesmo período de 2014 (+15%) e as receitas subiram em ritmo ainda maior (+19%).

DÓLAR

A alta do dólar, que torna os produtos brasileiros mais competitivos, é uma das apostas da indústria para melhorar a situação das exportações –em valores, o país amarga queda pelo quarto ano consecutivo.

O impacto da desvalorização do real deve ainda demorar alguns meses para ser sentido de forma mais ampla, já que os contratos são fechados com antecedência.

“Estão todos animados para exportar. O dólar pode ajudar, mas não será um caminho fácil. Focamos muito no mercado interno e deixamos, assim, de desenvolver distribuidores e clientes”, diz José Pimenta, professor de relações internacionais da ESPM. 

Fonte: Folha de S.Paulo