Início da aplicação em grande escala, porém, deve levar até três anos.
Imunizante está sendo desenvolvido em parceria com cientistas dos EUA.
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou nesta quinta-feira (11) uma parceria firmada entre o Instituto Evandro Chagas, sediado em Belém, e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, para desenvolver uma vacina contra o vírus da zika. Segundo ele, a experiência das instituições pode encurtar o prazo de formulação do produto em laboratório para um ano. Depois, a vacina deve ser testada em animais e humanos por mais dois anos, antes de o imunizante ser aplicado em grande escala, de acordo com o ministro.
“Como o instituto e a universidade têm o mesmo viés, fizemos essa parceria para desenvolver a vacina. Sabemos que é demorada, mas há um grande otimismo de que poderemos desenvolver a vacina em um tempo menor que o previsto. Aproximadamente em um ano, podemos ter essa vacina desenvolvida”, afirmou Castro. “Seria um ano para desenvolver e dois anos para testar o produto”, acrescentou.
(Correção: ao ser publicada, essa reportagem afirmou erroneamente que a vacina estaria pronta em um ano, segundo declaração do ministro da Saúde. Depois Castro corrigiu sua fala, dizendo que nesse prazo ela estará pronta para testes. A reportagem foi corrigida às 12h45).
O prazo para desenvolvimento não significa que a vacina estará disponível na rede de saúde daqui a um ano. Além dos testes em animais, o produto precisa ser testado em humanos, enviado para laboratórios de outras partes do mundo e registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo.
“O que está previsto no cronograma é dois anos, mas nossos cientistas estão tão otimistas que estão prevendo um prazo inferior. Aí, vai ter que fazer testes em animais, em humanos, e isso demora. A vacina da dengue, por exemplo, está na fase III e ainda vai levar cerca de um ano”, diz Castro.
No melhor dos cenários, Castro diz que a vacina poderia estar disponível à população dentro de três anos. “O caso é tão urgente que estamos pedindo a presença da FDA [órgão americano de vigilância sanitária] e da Anvisa para eliminar burocracias. Não queremos pular etapas, mas agilizar etapas”, diz.
A parceria prevê investimento de US$ 1,9 milhão pelo governo brasileiro, nos próximos cinco anos. O valor do aporte a ser feito pelos EUA não foi informado.
O lado brasileiro do desenvolvimento será coordenado pelo pesquisador Pedro Vasconcelos, do Evandro Chagas. Assim como o ministro, o pesquisador também diz que será possível desenvolver a vacina em até um ano, embora o cronograma de trabalho oficial preveja prazo de dois anos.
“Essa vacina vai ser feita da seguinte maneira: após o sequenciamento do vírus zika, que já está acontecendo, a parte que é responsável pelo desenvolvimento de anticorpos no hospedeiro será incorporada a uma molécula sintética, que vai estimular o organismo humano”.
Testes simultâneos
Segundo Vasconcelos, grande parte da pesquisa será desenvolvida em Galveston, no Texas. Os testes pré-clínicos, que antecedem a aplicação em humanos, devem ser feitos simultaneamente em Galveston, em camundongos, e em Ananindeua, na região metropolitana de Belém, em macacos.
Geralmente, os testes nas duas espécies são feitos em separado. “Essa simultaneidade vai acelerar o procedimento em seis a oito meses. Por isso, acreditamos que a vacina poderá estar disponível para teste em humanos em doze meses. Um pouco mais, um pouco menos”, diz o pesquisador.
Críticas
O anúncio da parceria com os EUA ocorreu numa semana em que cientistas estrangeiros vinham criticando o Brasil pela dificuldade de acesso a amostras do vírus da zika. Problemas burocráticos e desinteresse por colaborações estariam desestimulando cientistas brasileiros a enviar amostras para fora.
Castro não quis criar polêmica sobre as críticas. “Elas são livres”, afirmou.
Há uma semana o ministério divulgou que as amostras coletadas no Brasil já estão sendo compartilhadas com organizações estrangeiras com o propósito de pesquisa.
Notificação adiada
O ministério da Saúde adiou “para as próximas semanas” a notificação obrigatória dos casos de zika nos estados. O anúncio foi feito no início do mês, em entrevista à agência Reuters, e era previsto para esta semana. Segundo o ministro, houve um atraso no repasse dos kits de exames aos gestores locais.
“Até a próxima semana, vamos reunir o corpo técnico. Houve uma pequena demora [no envio dos kits] pela licitação, que atrasou. Quando sentirmos segurança, vamos determinar a notificação obrigatória ao ministério”, disse.
Os testes são fabricados pelo Instituto Bio-Manguinhos, que é vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ao Ministério da Saúde. A tecnologia só consegue identificar a presença do vírus da zika durante a fase “virulenta”, em que o micro-organismo está ativo no corpo.
O ministro diz que avaliações clínicas também poderão ser notificadas, desde que o médico sinta “segurança” no diagnóstico. “É possível dar diagnóstico clínico da zika? É, mas não em todos os casos. Em muitos, os sintomas se confundem com os da dengue.”
Mais parcerias
Até o fim do mês, técnicos do Centro de Prevenção e Controle de Doenças norte-americano (CDC) devem chegar ao país para investigar a relação do vírus da zika com a microcefalia. Os estudos devem ser feitos na Paraíba, em parceria com o governo local.
Representantes do CDC estão no país desde novembro e apuram a relação do vírus com doenças neurológicas como a síndrome de Guillain-Barré. Os resultados ainda não foram divulgados.
“O presidente Obama mandou um projeto ao Congresso pedindo US$ 1,8 bilhão para ações contra o vírus zika. Aqui, compreende-se desenvolvimento de pesquisas, vacinas, medicamentos e ações de controle de epidemiologias”, diz Castro.
O governo também estuda parcerias com o Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH) e com o laboratório GSK, envolvidos no desenvolvimento da vacina contra o ebola.
Relação ‘sem dúvidas’
O ministro da Saúde afirmou nesta quinta que o governo não tem mais dúvidas sobre a relação existente entre o vírus da zika e o aumento nos casos de microcefalia. O que os pesquisadores investigam agora, segundo ele, é a existência de outros fatores “colaterais”.
“Não há a menor dúvida de que o fator determinante da epidemia de microcefalia que temos no Brasil é a epidemia de zika. O que nós vamos investigar agora é se há outros fatores adicionais, outras influências. Nós não temos hipóteses, tudo ainda vai ser investigado”, disse.
Castro reafirmou que as estratégias de combate ao vírus e ao mosquito Aedes aegypti são uma prioridade do governo e que, por causa disso, têm recursos garantidos no orçamento da União.
“Este é o maior problema que o Brasil tem. Para o maior problema do país, não podem faltar recursos e a presidente Dilma tem sido enfática ao dizer que isso [a falta de dinheiro] não será um problema. Os recursos não são vultosos, não é grande quantidade para a dimensão do problema”, declarou.