Dez dias depois de anunciar o desligamento de dois altos-fornos a partir deste fim de semana, siderúrgica mineira disse que pretende reduzir a jornada das áreas administrativas, com corte proporcional no salário; medida será discutida com sindicatos

 

A Usiminas informou nesta quinta-feira que, diante do cenário adverso para o setor industrial, principalmente para o mercado de aço, pretende reduzir a jornada de trabalho para as áreas administrativas em um dia útil por semana, com redução de salário proporcional, por tempo indeterminado, mas seguindo prazos da lei.

Ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a empresa informou que 3 mil funcionários serão atingidos com a medida em todo o País. A ação, segundo a companhia, seria uma forma de evitar demissões. Entretanto, a proposta depende ainda de negociações com os sindicatos.

No dia 18 de maio, a Usiminas informou ao mercado que vai desligar temporariamente dois altos-fornos, reduzindo sua produção de ferro-gusa, a matéria-prima do aço, em cerca de 120 mil toneladas ao mês. Em Cubatão (SP), o equipamento será desligado no dia 31 de maio e em Ipatinga (MG), a partir de 4 de junho.

O ajuste, segundo a siderúrgica, tem o objetivo de “adequar a produção ao atual ritmo de demanda do mercado siderúrgico, trazendo oportunidades de redução de custo e melhoria da competitividade da Usiminas no atual cenário”.

Por causa dessas paralisações, o mercado já comentava sobre possíveis demissões na empresa. A informação que circula entre os trabalhadores é de que o corte chegaria a mil trabalhadores, em Belo Horizonte e Ipatinga (MG). A siderúrgica mineira ressaltou, nesta quinta-feira, que não haverá demissões.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga e Região (Sindipa) publicou uma nota em seu site relatando que se reuniu com representantes da empresa na terça-feira para discutir a paralisação dos altos-fornos. “Depois da reunião, a Usiminas começou a divulgar, primeiro com boatos e de maneira desencontrada, medidas que pretende tomar de redução da jornada e salário”, diz a nota do sindicato. “Essa prática tem como objetivo amedrontar os metalúrgicos e criar um clima de tensão na cidade.”

Resultados. Durante a divulgação de resultado do primeiro trimestre, o diretor de mineração da Usiminas, Wilfred Brujin, disse que a companhia continuaria concentrando esforços no corte de custos diante do atual cenário para os preços do minério de ferro. “O momento é muito difícil no mercado de minério de ferro e cada dólar poderá fazer a diferença e contribuir com a importância para termos um nível de custo mais competitivo”, disse, na ocasião.

A companhia vendeu 1,256 milhão de toneladas de aço no primeiro trimestre, queda de 12,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, a produção de aço bruto caiu 16,5%, para 1,379 milhão de toneladas. No último trimestre, a empresa teve prejuízo líquido de R$ 235 milhões.

“Diante dos estoques elevados e dos indicadores de confiança em patamares mínimos, não há sinais de uma recuperação iminente”, disse a Usiminas em seu relatório de resultados, citando o moderado crescimento da economia mundial e o fraco desempenho da atividade econômica brasileira.

Um dos fatores que mais motivou a piora do desempenho no primeiro trimestre do ano foi a menor demanda por laminados a quente e laminados a frio. As exportações registraram queda de 10,7%, totalizando 151 milhões de toneladas. Com isso, a empresa deixou de se beneficiar com a desvalorização do real frente ao dólar. Uma das preocupações de analistas é o nível de alavancagem da Usiminas. No primeiro trimestre, a dívida líquida da empresa atingiu R$ 4,5 bilhões.

Disputa societária

A japonesa Nippon Steel e a Ternium, do grupo ítalo-argentino Techint, que fazem parte do bloco de controle da Usiminas, estão em litígio desde o fim de setembro do ano passado, quando três executivos do alto escalão da siderúrgica, entre eles o presidente Julián Eguren, foram destituídos. A Nippon alegou, àquela época, que eles, nomes de confiança da Ternium, estavam recebendo benefícios irregulares. A Ternium discorda e afirma que o acionista japonês está descumprindo o acordo de acionistas. Com a disputa societária, os acionistas minoritários ganharam força no grupo.

Fonte: O Estado de S.Paulo