Vitória do candidato democrata para a presidência dos EUA animou sindicalistas, que esperam ser mais ouvidos pelo novo governo
Quanto ao significado político da eleição, o presidente da AFL-CIO, Richard Trumka, não tem dúvida. “A democracia está prevalecendo”, afirma. “A vitória de Joe Biden e Kamala Harris nesta eleição livre e justa é uma vitória para o movimento operário dos Estados Unidos. Em todas as partes, os trabalhadores lutam heroicamente e com resiliência contra essa pandemia, a retração econômica, a crônica desigualdade salarial e o racismo sistêmico”, acrescenta o dirigente.
“Verdadeira reconstrução”
O primeiro passo, segundo ele, seria aprovar a chamada lei Heroes, de combate à covid-19. “Para proporcionar a nossas famílias e comunidades apoio e serviços de emergência frente a esse vírus mortal”, diz Trumka. A partir daí, aponta, “a verdadeira reconstrução pode começar”.
Desemprego e desigualdade
O desemprego também preocupa os sindicatos americanos, especialmente no período pós pandemia. A taxa de desemprego vem caindo nos últimos meses, mas segue bem acima de 2019. Em outubro, foi de 6,9%, segundo o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. Era de 7,9% em setembro, mas um ano atrás estava em 3,6%. Nesses 12 meses, o total de desempregados foi de 5,857 milhões para 11,061 milhões. No Brasil, esse número já chegou aos 14 milhões.
Mas os dados do mercado norte-americano revelam desigualdades. A taxa de desemprego, por exemplo, é menor para homens adultos (6,7%), mulheres adultas (6,5%) e brancos (6%). E maior para jovens (13,9%), negros (10,8%) e hispânicos (8,8%). São 3,6 milhões de americanos sem trabalho há 27 semanas ou mais e 2,6 milhões, de 15 a 26 semanas. Além disso, boa parte é de ocupações temporárias ou de tempo parcial.
Diálogo social
Os desafios são muitos, mas o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, aponta mudanças importantes, como o retorno americano aos organismos multilaterais. “Temos críticas, mas desconsiderá-los é pior ainda”, observa. São nesses espaços, lembra, que há “alguma possibilidade de enfrentar certos temas”, como na mais do que nunca urgente questão da saúde.
A expectativa dos sindicalistas americanos é positiva, mas Lisboa observa que ainda há preocupação com o resultado final da eleição no Congresso. Existe perspectiva de fortalecimento do diálogo social, de possível aprovação da PRO e da reconstrução de um sistema público de saúde. “Acredito que a relação do novo governo com o movimento sindical será muito melhor.”
Brasil-EUA
Quatro anos atrás, Donald Trump se elegeu com a retórica da “América grande” e da criação de empregos para os americanos, com viés xenófobo. “Em 2016, isso funcionou bem. Esse discurso acabou conquistando parte dos trabalhadores, mesmo com a campanha do movimento sindical para o Partido Democrata”, diz Lisboa. Agora, embora Biden venha do “centro” democrata – havia a preferência da ala mais progressista por Bernie Sanders –, prevaleceu a necessidade de derrotar Trump.
As relações entre sindicalistas brasileiros e norte-americanos foram mudando com o tempo. Se décadas atrás havia certa desconfiança por certa ligação da AFL-CIO com as políticas intervencionistas dos Estados Unidos, hoje a ligação se estreitou. Lisboa indica uma “virada à esquerda” a partir dos anos 1980. No caso da CUT, essa aproximação veio com o primeiro encontro entre sindicalistas duas duas centrais, em 1993.
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