Conforme informações preliminares da Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim, os índices de volume de produção, de vendas internas e de demanda nacional tiveram resultados negativos no terceiro trimestre deste ano, tendo sido o pior terceiro trimestre dos últimos nove anos.
A produção caiu 1,96%, as vendas internas recuaram 5,36%, enquanto a demanda nacional por produtos químicos, medida pelo CAN (consumo aparente nacional), teve retração de 5,2% de julho a setembro sobre iguais meses do ano passado. A utilização da capacidade instalada foi de 79% na média entre julho e setembro deste ano, contra 81% em igual período de 2014.
De acordo com a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, tradicionalmente, o terceiro trimestre da indústria química é o que concentra os maiores volumes de produção, vendas e demanda, em função das encomendas de final e início de ano. No entanto, o único dado positivo nesse período continua sendo o de exportações, que cresceram 15,1% nos últimos três meses, sobre os volumes do terceiro trimestre de 2014.
Apesar do encolhimento do mercado doméstico, um porcentual maior da demanda interna tem sido atendido por vendas de produção local. Em 2014, a participação das importações sobre o CAN foi de 35,8%, enquanto que de janeiro a setembro de 2015, esse peso caiu para 29,6%, aumento de 6,2 pontos de produtos nacionais no share do CAN. “A desvalorização do real no período recente trouxe impactos positivos para a balança comercial de produtos químicos”, explica Fátima Giovanna.
No entanto, para Fátima Giovanna, “ainda não é possível mensurar nem prever as consequências e a duração dos efeitos da crise sobre a economia brasileira. O pior é que a credibilidade do País também foi impactada. Só medidas adequadas e que deem previsibilidade de longo prazo poderão ajudar o Brasil a voltar a crescer”, analisa a diretora da Abiquim.
Em meio a esse cenário, o Governo Federal ainda anunciou o pacote de ajuste fiscal, que atinge diretamente e agrava a competitividade da indústria química brasileira. “Presente na base de diversas cadeias industriais, com forte penetração na economia e efeito multiplicador expressivo, não se pode descartar o efeito inflacionário que essas medidas, que aumentam os custos de produção das empresas, poderão trazer”, alerta Fátima Giovanna.
A diretora ressalta que a pretendida redução em 50% do Regime Especial da Indústria Química (REIQ) já em 2016, bem como o fim do regime em 2017, além da diminuição da alíquota do Reintegra, que vem na contramão justamente em um momento em que o setor tem mantido produção com algum ganho de volume no mercado externo, e a possibilidade de elevação da já alta carga tributária elevam a desconfiança das empresas e afastam possíveis investimentos. “Os custos do setor já foram fortemente majorados em 2015 por conta da alta das tarifas de energia elétrica e pela retirada dos descontos do gás de produção local. A indústria química trabalha com horizonte de longo prazo e diversas negociações foram realizadas levando-se em consideração tanto o REIQ quanto o Reintegra, previstos anteriormente”, lembra Fátima Giovanna.
Segundo a economista, as medidas do governo sobre o setor podem levar ao fechamento de plantas e a uma ainda maior redução das intenções de investimento. “Se o País não repensar as medidas, buscando estimular e revitalizar a indústria, correrá sério risco de em um futuro breve tornar-se exportador apenas de commodities, sem agregar valor à vasta riqueza de matérias-primas. Não existe País desenvolvido sem uma indústria química forte”, conclui.