Trata-se do recuo mais generalizado desde dezembro de 2008, quando a produção industrial também cedeu em 13 regiões do País; em SP, recuo de 11,3% foi o maior desde junho de 2009
A redução de ritmo na produção industrial nacional na passagem de março para abril, já descontados os efeitos sazonais, foi acompanhada por 13 dos 14 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do recuo mais generalizado desde dezembro de 2008, quando a queda da produção também cedeu em 13 regiões.
Em novembro daquele ano, a baixa havia sido ainda mais intensa, atingindo todos os locais investigados pelo órgão. Em São Paulo, maior parque industrial do País, a produção caiu 3,6% em abril ante março. O resultado ficou acima da média do Brasil, que foi de recuo de 1,2% no período.
Registraram recuos intensos na passagem do mês as regiões de Ceará (-7,9%), Bahia (-5,1%), Amazonas (-5,1%) e Pernambuco (-4,6%), enquanto Região Nordeste (-3,7%), Goiás (-2,1%), Rio Grande do Sul (-1,9%) e Pará (-1,8%) também apontaram quedas mais intensas do que a média nacional.
Rio de Janeiro (-1,2%), Santa Catarina (-0,9%), Minas Gerais (-0,8%) e Espírito Santo (-0,5%) completaram o conjunto de locais com índices negativos em abril de 2015. Por outro lado, Paraná, com expansão de 1,4%, mostrou o único resultado positivo no mês, após registrar recuo de 2,4% em março ante fevereiro.
Recuos intensos. A queda de 11,3% na produção industrial em São Paulo em abril ante igual mês do ano passado, a maior neste confronto desde junho de 2009, estendeu-se por 17 das 18 atividades investigadas na região. Trata-se do recuo mais generalizado na indústria paulista em toda a série histórica, iniciada em 2002, afirmou nesta terça-feira o técnico Rodrigo Lobo, da Coordenação de Indústria do IBGE.
“Esta é a primeira vez na série da produção industrial de São Paulo em que isso acontece. É uma queda generalizada entre as atividades”, contou Lobo. Segundo ele, apenas o segmento de minerais não-metálicos avançou em abril ante abril de 2014, com ganho de 2,3%, puxado pela produção de cimentos. Mas o técnico ponderou que não se trata de um destaque, pois o setor vem de uma base de comparação muito baixa.
O resultado ruim no mês de abril ainda levou a produção em São Paulo a registrar, em abril, a 14ª queda consecutiva na comparação com igual mês do ano anterior, algo também inédito na série. Setores como têxtil, vestuário, máquinas e equipamentos e veículos sustentam a mesma sequência negativa. “Essas duas últimas atividades costumam influenciar bem mais a queda da indústria como um todo em São Paulo”, disse Lobo.
Mas alguns segmentos vão além. A atividade de outros produtos químicos está no vermelho há 18 meses, enquanto a fabricação de produtos de metalurgia acumula perdas há 17 meses.
“A perda da renda das pessoas, seja por menor crescimento do salário nominal ou por aumento da inflação, acaba reduzindo demanda por produtos industriais. Além disso, o aumento da taxa de juros, que repercute no encarecimento do crédito e já pressiona negativamente o poder de compra das famílias, é perverso também com os empresários, uma vez que reduz perspectiva de fazer novos investimentos. A taxa de câmbio está relativamente desvalorizada, mas ao mesmo tempo a demanda do exterior não é tão robusta”, justificou o técnico do IBGE.
Na série com ajuste sazonal, é possível identificar que a indústria de São Paulo opera 17,6% abaixo do pico histórico de produção, atingido em março de 2011. Apenas em abril, o recuo da atividade na região foi de 3,6% na comparação com o mês anterior. “As atividades que mais explicam essa perda da produção industrial são veículos, equipamentos de informática, máquinas e equipamentos e perfumaria, sabões e produtos de limpeza”, listou Lobo.
Resultado ruim no mês de abril ainda levou a produção em São Paulo a registrar, em abril, a 14ª queda consecutiva na comparação com igual mês do ano anterior
Já no Ceará, a indústria registrou queda de 7,9% na produção em abril ante março, a baixa mais intensa desde maio de 2003 (-8,2%), segundo o IBGE. “Percebemos movimento menor no setor de derivados de petróleo e biocombustíveis, e o produto que mais cai é asfalto de petróleo. Outras atividades que pressionaram foram bebidas e calçados”, contou Lobo.
Na Bahia, a queda de 5,1% em abril sucedeu o aumento de 24,0% em março, sempre na comparação com o mês anterior. Segundo o técnico, no terceiro mês do ano houve um impulso atípico devido à retomada das operações em plataformas de petróleo, paralisadas em meses anteriores para manutenção ou devido a acidentes. Além disso, em abril, outras atividades que pressionaram foram celulose, metais não metálicos, metalurgia e veículos.
Alta no PR. O Paraná foi a única região a mostrar alta na produção industrial em abril ante março, segundo o IBGE. Mas o aumento de 1,4% na margem, puxado pelos setores de alimentos, outros produtos químicos e veículos, não deve ser comemorado. “Não significa recuperação, o estado ainda está 23,6% abaixo de seu pico de produção, que foi em dezembro de 2011”, afirmou o técnico Rodrigo Lobo.
O desempenho do Paraná é pior do que a média nacional. A indústria brasileira como um todo operava, em abril, 12,3% abaixo do seu pico histórico, observado em junho de 2013.
Embora não tenham tido aumento na produção em abril ante março, duas regiões que se beneficiam da extração de minério de ferro têm tido resultados melhores. No Pará, onde o setor extrativo responde por 80% da indústria, a produção está 1,8% abaixo do pico histórico. Já no Espírito Santo, onde a fatia do setor é próxima a 60%, o desempenho está 3,9% abaixo do recorde.