O Brasil está longe da situação vivida pela Grécia, mesmo considerando a recessão e a deterioração dos indicadores econômicos. Após o calote ao FMI, o país europeu está sem crédito, não tem como pagar o funcionalismo e os bancos estão insolventes.

Em comum, os governos grego e brasileiro têm dificuldade para controlar os gastos públicos e pouca margem de manobra política para mexer nos benefícios sociais, especialmente aos aposentados.

Ambos os países não conseguem construir uma rota de crescimento sustentável, reduzindo custos, investindo em produtividade e fomentando novos investimentos.

Presa na armadilha da moeda única, a Grécia não tem autonomia sequer para emitir o próprio dinheiro, pagar as contas internas mais urgentes, mesmo que isso signifique inflação e empobrecendo a população. Por outro lado, não pode aumentar sua competitividade, mesmo que momentânea, por meio da desvalorização da moeda.

A situação grega atual só é comparável àquela do Brasil no final de 1998, quando o país negociou um socorro do FMI para tentar defender o real. O socorro saiu, mas, apesar disso, as reservas cambiais acabaram, e o Brasil desvalorizou o real e abandonou o câmbio fixo.

Grécia e Brasil também vivem uma instabilidade política crescente. O Brasil com os desdobramentos da Operação Lava Jato, possibilidade de rejeição das contas do governo pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e até discussão de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A Grécia experimentou a troca sucessiva de governos desde que o socorro europeu começou. Tem hoje o Parlamento e a população divididos em relação às exigências de austeridade dos credores.

Para sair do atoleiro, ambos os países têm metas parecidas de superávit primário (saldo das receitas e despesas antes do pagamento dos juros) que não deverão ser cumpridas. O superávit primário é a economia feita pelo governo para evitar o descontrole da dívida pública.

A Grécia promete fazer um superávit de 1% do PIB em 2015, devendo subi-lo para 2% em 2016 até atingir 3,5% em 2018. No Brasil, a meta atual é de 1,1% do PIB, mas dificilmente será cumprida.

Por outro lado, a dívida brasileira bruta está na casa de 65% do PIB, patamar elevado para um país com o chamado grau de investimento das agências de risco, espécie de selo de bom pagador.

PRODUTIVIDADE

O tamanho da economia grega é menos de um décimo da brasileira. Com 11 milhões de habitantes, a Grécia vive do turismo nas ilhas, da indústria naval, além da exportação de frutas e azeites.

O mercado consumidor é pequeno e o desemprego atinge um em cada quatro trabalhadores.

O Brasil tem mais de 200 milhões de pessoas e uma economia diversificada. O desemprego, embora crescente, é menor (8,1% no trimestre encerrado em maio, segundo a Pnad Contínua).

Finalmente, a população brasileira ainda é jovem, o que poderá sustentar os aposentados até os anos 2030.

O custo do INSS, que foi de 2,5% do PIB em 1988, deve chegar a 7,5% neste ano, segundo o economista Fabio Giambiagi.

Na Grécia, um quarto da população está aposentada, com custo na casa de 17,5% do PIB, o maior da Europa.

“Grécia e Brasil têm um Estado caro, com gastos e serviços ineficientes. Ambos os governos têm muita dificuldade para endereçar esses problemas”, disse Alexandre Chaia, professor do Insper.

“O Brasil não está à deriva como a Grécia. Mas os dois países se esforçam só para sair do buraco atual. Não resolvem os gargalos tributário, fiscal e de infraestrutura para ganhar eficiência e produtividade”, diz Nicola Tingas, economista da Acrefi.

Fonte: Folha de S.Paulo