Envelhecimento é reflexo da queda da mortalidade infantil e exigirá reformas sociais, diz relatório
Uma em cada quatro pessoas no fim do século terá mais de 60 anos. Nenhum estrato da população mundial cresce tão rápido quanto o dos idosos, segundo um relatório publicado ontem pela ONU. Hoje, eles correspondem a 12% dos habitantes do planeta (901 milhões de pessoas). Em 2050, serão 21,6% (2,1 bilhões). Cinco décadas depois, chegarão a 28,5% (3,2 bilhões).
De acordo com o documento “Perspectivas da população mundial: a revisão de 2015”, o planeta, que atualmente comporta 7,3 bilhões de pessoas, abrigará 11,2 bilhões em 2100 — um crescimento de 53%, impulsionado principalmente por países com alta taxa de fertilidade ou que já têm um grande número de habitantes, como Índia, Indonésia, Nigéria e Paquistão.
O envelhecimento ocorrerá em diversos locais do planeta, começando pela Europa, onde 34% da população terão mais de 60 anos até 2050. Na mesma década, esta faixa etária representará 25% dos asiáticos e latino-americanos — atualmente, eles correspondem a menos de 12% dos habitantes nestas regiões.
Mesmo conquistando, até o fim do século, a maior concentração de jovens do planeta, a África também será palco do crescimento do contingente de idosos. Hoje, eles correspondem a 5% da população. Em 2050, serão 9%.
— Em países que já experimentam há décadas um baixo índice de fertilidade, a proporção dos habitantes com 60 anos está crescendo rapidamente — destaca John Wilmoth, diretor da Divisão de População do Departamento de Desenvolvimento Econômico e Assuntos Sociais da ONU. — De um lado, o envelhecimento da população é uma enorme conquista, refletindo nosso sucesso em quase eliminar a mortalidade infantil. No entanto, também desafia a sustentabilidade de sistemas de proteção social, particularmente a pensão para idosos e os programas de saúde pública.
A expectativa de vida no planeta, hoje de 71,7 anos, pulará para 83,2 anos este século. No Brasil, a estimativa vai pular dos 75,4 anos para 88,6.
‘TSUNAMI GRISALHO’
Demógrafo e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustaquio Alves destaca que, nos países desenvolvidos, a “onda jovem” já passou.
— Agora, é a vez do “tsunami grisalho” — avalia. — A fecundidade caiu, mas há cada vez mais pessoas no topo da pirâmide etária. A maioria da população vivia no meio rural, e os filhos eram responsáveis pelos pais na velhice. Desta vez, todos estão nas cidades, a mulher corre atrás de sua autonomia no mercado de trabalho e de seu próprio seguro social.
Para Jaime Nadal Roig, representante do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil, o envelhecimento da população já provoca transformações no mercado — cada vez mais pessoas adiam a aposentadoria e tentam evitar sua dependência de pensões governamentais. As resoluções familiares, porém, não eximem o poder público de criar e adaptar políticas para assistência aos idosos.
— Os governos precisam investir em reformas de diversos setores, como o da previdência social e o de saúde, além de adequar políticas de transferência de renda, para que elas privilegiem os idosos da mesma forma como atendem às crianças.
Segundo o documento, a população brasileira encolherá durante o século. Hoje, é de 207 milhões de pessoas. Por volta de 2050, atingirá o pico, com cerca de 228 milhões de habitantes. Em 2050, será de 200 milhões. O país, que atualmente é o quinto mais populoso do planeta, passará a sétimo em meados do século e, em 2100, será o 13º.
Até 2050, segundo o estudo, a população dos 28 países africanos deve crescer em mais de 100%. Até 2100, pelo menos dez dessas nações observarão um avanço demográfico de mais de cinco vezes.