Dez trabalhadores de refinaria de Cubatão estão sem sair da empresa. Ministério do Trabalho fez vistoria e teme pela saúde dos trabalhadores.

Dez trabalhadores da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP), estão confinados há 15 dias dentro da unidade da Petrobrás. Como não houve rendição de funcionários, devido à greve nacional, eles continuam trabalhando, se alimentando e dormindo dentro da empresa. Auditores do Ministério do Trabalho fizeram uma vistoria na refinaria e analisam uma forma de tomar uma medida para resolver o problema.

De acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP), cerca de 30 trabalhadores, que não foram rendidos às 23h do dia 28 de outubro, ficaram na unidade. Ainda segundo o sindicato, eles não saem do local por medo de acidentes com os equipamentos.

A juíza do trabalho, Ana Lucia Vezneya, emitiu uma petição autorizando a saída dos trabalhadores. Apenas seis operadores foram embora entre os dias 29 e 30 de outubro, após eles terem tomado a decisão de deixar o local por conta própria. Já na última quinta-feira (5) e sexta-feira (6), pelo menos outros dez funcionários decidiram sair da Petrobras.

Atualmente, dez trabalhadores continuam dentro da Refinaria Presidente Bernardes, por receio de que alguns equipamentos possam apresentar problemas. Eles trabalham em esquema de revezamento, dedicando 16 horas do dia para o trabalho e oito para o descanso. Eles recebem quatro refeições diárias: café da manhã, almoço, lanche e janta, dentro dos locais de trabalho, como de costume. Os trabalhadores dormem em colchões e travesseiros cedidos pela empresa.

Segundo o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP), Marcelo Juvenal, após a saída dos trabalhadores, na sexta-feira (6), foram desativadas algumas partes da empresa. De acordo com ele, são 14 unidades e apenas seis estão em funcionamento sob o comando dos dez trabalhadores confinados e do grupo de contingência, que é formado por cerca de 50 a 60 supervisores e coordenadores que estão trabalhando normalmente na refinaria.

“Eles estão esperando a empresa liberá-los. Estão revezando, estão cansados. Alguns não confirmam, mas querem sair. A Refinaria está operando só com 40% da capacidade para garantir o abastecimento da sociedade. Não vai faltar gasolina e diesel”, falou Juvenal.

Os auditores do Ministério do Trabalho visitaram a empresa na última segunda-feira (9) para verificar as condições de trabalho, alimentação e higiene dos funcionários. “As condições de trabalho avaliamos que não são boas porque não tem redenção e eles estão lá trabalhando de 14 a 16 horas por dia, além de estarem de prontidão. Eles não podem estar bem assim”, afirma a auditora Carmem Melo.

Segundo ela, os trabalhadores não são obrigados a estarem na Refinaria, mas se sentem responsáveis pelos equipamentos e pelos processos químicos. O medo deles é que ocorram acidentes, como vazamentos de gás e explosões,  caso saiam da empresa e deixem as máquinas ligadas.

“Só a empresa poderia mandar desligar as máquinas. Precisamos de um embasamento para pedir que eles parem. O Ministério do Trabalho ainda está analisando. Não conseguimos chegar a uma conclusão. Em todos esses anos de carreira, eu nunca passei por uma situação dessas. Não tem revezamento de trabalhadores e os sindicatos não deixam ninguém ir trabalhar”, falou.

Os auditores solicitaram a Petrobras que apresente documentos referentes aos funcionários nesta terça-feira. Segundo ela, é preciso discutir a questão entre a empresa, o sindicato e governo. “Estamos tentando reuní-los. Queremos ver se até o fim de semana temos uma decisão para, pelo menos, fazer um revezamento entre os trabalhadores. Tememos pela saúde deles”, afirmou a auditora.

A greve na Petrobras foi iniciada no dia 29 de outubro por cinco sindicatos que compõem a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). No domingo (1), uniram-se ao movimento os sindicatos filiados à Federação Única dos Petroleiros (FUP), incluindo o da Bacia de Campos.

O movimento foi iniciado pelos sindipetros Litoral Paulista, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Alagoas/Sergipe e Pará/Amazonas/Maranhão/Amapá.

A categoria, que pede reajuste salarial de 18%, rejeitou a proposta da Petrobras de aumento de 8,11%. O movimento também é contra o plano de venda de ativos da estatal e busca manter direitos dos trabalhadores, em meio às dificuldades financeiras da Petrobras, envolvida num escândalo de corrupção.

Contrária ao plano de desinvestimentos na Petrobras, a FUP reivindica interrupção do processo de terceirização em curso na empresa e a retomada dos investimentos no país.

A Petrobras disse que realizou, nesta segunda-feira, duas reuniões com as entidades sindicais para buscar o fechamento do Acordo Coletivo de Trabalho 2015. A companhia se dispôs a avançar em itens reivindicados pelas entidades sindicais e discutir aqueles não relacionados diretamente ao ACT.

A empresa está aberta à negociação e a discutir as reivindicações dos representantes dos empregados. O agendamento de novas reuniões esta semana e a retomada do diálogo reforçam os esforços na busca por entendimentos para o fechamento do Acordo Coletivo de Trabalho 2015.

A Petrobras, através de seu plano de contingência, tem conseguido reduzir os impactos da greve sobre suas operações. A perda diária de óleo por efeito da greve diminui 60% desde o dia 2 de novembro. O impacto atual estimado na produção de petróleo tem sido, desde o último sábado (7) da ordem de 115 mil barris ao dia.

Fonte: G1