A euforia que movia economistas e analistas deu lugar à moderação. Está cada vez mais cristalizada a percepção de que a reforma da Previdência não tem condições de ser tocada com a mesma desenvoltura nem por Michel Temer nem por um possível substituto e deve ficar para 2018.

Com a mudança de expectativa, as novas previsões são que o país vai demorar mais para reduzir o crescimento da dívida pública, o que não permitirá uma queda mais acelerada da taxa de juros. Como resultado, a economia vai crescer menos.

Uma primeira onda de revisões para baixo nas estimativas de PIB foi detonada, embora a maioria dos economistas espere os números do primeiro trimestre —que saem na quinta (1º)— para divulgar as suas novas projeções.

O Fator espera alta de 1% para o PIB em 2017, mas isso deve ser revisado para perto de zero, diz o economista-chefe do banco, José Francisco de Lima Gonçalves.

Para ele, a reforma da Previdência atrasa, mas acaba saindo no começo do ano que vem. O câmbio vai voltar um pouco, mas não para onde estava antes da crise, perto de R$ 3,10.

E, por causa das incertezas, o Banco Central deve desacelerar o ritmo e reduzir o juro em apenas 0,75 ponto percentual na próxima semana.

Para Gonçalves, a melhora dos mercados desde segunda-feira responde a uma percepção de que o desfecho da crise exclui eleições diretas ou impeachment e embute a saída de Michel Temer via Tribunal Superior Eleitoral (TSE) –algo considerado mais conveniente e menos doloroso.

Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, se adiantou e, na segunda-feira (22), revisou a previsão de alta do PIB em 2017 de 1% para 0,5% (e de 3,5% para 2,5% no próximo ano).

Os fundamentos da economia não mudaram, mas o atraso na reforma Previdência, que só sai no primeiro trimestre de 2018, e a Selic caindo mais lentamente devem fazer com que o juro cobrado do consumidor final também demore mais para ceder.

Mesmo pequeno, o PIB esperado pela Tendências, de 0,3% em 2017, deve passar por algum ajuste, diz o economista Silvio Campos Neto.

O Banco Central deve manter o ritmo de corte da Selic em um ponto, de olho no campo fiscal mais desafiador. Os preços, contudo, seguem mais ou menos controlados. A reforma trabalhista ainda tem viabilidade, mas a da Previdência tem grande chance de ficar só para depois das eleições, diz ele, um tanto mais pessimista.

Já a MCM Consultores está revisando previsões para o PIB. No cenário-base da consultoria, Temer não continua no cargo, mas a manutenção da equipe econômica evitará novo ciclo de deterioração contínua da economia.

Os grandes bancos ainda não se posicionaram. O Santander, porém, dá pistas sobre quais podem ser seus próximos passos, ao admitir que talvez o viés do PIB seja de baixa.

Por enquanto, o banco não mexeu nas previsões para os principais indicadores, e um dos motivos é já estar na ponta mais conservadora das estimativas. O câmbio esperado para 2017, por exemplo, é de R$ 3,50, bem acima do previsto pela mediana do mercado para este ano (R$ 3,23) e para o próximo (R$ 3,36).

Procurados, Bradesco e Itaú não se pronunciaram.

 

 

Fonte – Folha de S.Paulo