“Ao perder o selo de bom pagador para investidores, o governo dá uma demonstração de incompetência na área econômica e de sua instabilidade política. Vale ressaltar que a política econômica equivocada que o governo adota resulta em carimbo de país com tendência a caloteiro”, diz a central, em nota assinada por Miguel Torres, presidente da entidade.
O impacto do rebaixamento, de acordo com a central sindical, é que não haverá recuperação econômica no curto prazo.
É importante destacar que uma avaliação positiva ajudaria o Brasil e suas empresas a conseguirem empréstimos no exterior com melhores condições de pagamento e juros menores. Portanto, o dinheiro para investimento ficará mais difícil e caro. Com isto, teremos um efeito cascata para a economia: crédito mais caro, menos investimentos, produção em queda e menor geração de emprego. ”
Para a Força Sindical, a política econômica ”penaliza os menos favorecidos e se curva aos especuladores”.
De acordo com a entidade, o rebaixamento vai obrigar a equipe econômica a aumentar as taxas de juros para manter capital no Brasil. ”Juros que estão em patamares exorbitantes e sangram a economia. O Brasil gastou R$ 506 bilhões para pagamento de juros da dívida no período entre outubro de 2014 e outubro de 2015. Dinheiro que poderia ser investido, por exemplo, em educação, transporte e saúde. ”
”Infelizmente, a incapacidade do governo de conduzir a economia voltada para o desenvolvimento e para o crescimento sustentável, aliada à instabilidade política, resultou em um Natal em que o Brasil ganhou de ’presente ’ um carimbo de país duvidoso na hora de honrar seus compromissos financeiros.”
VAREJO
A decisão de rebaixar a nota de crédito do Brasil dificulta a recuperação da economia e pode trazer impactos negativos à indústria, ao varejo e ao emprego.
Para a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ao retirar o selo de bom pagador do Brasil, o efeito mais imediato deve ser redução na entrada de recursos e investimentos no país e uma possível retirada de capitais do Brasil.
“Esse rebaixamento associado ao aumento de juros dos EUA pode provocar uma fuga de capitais e penalizar a economia ainda mais”, diz Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP.
O economista diz que era previsível que o país ia ser “castigado”.
“É como um aluno relapso e bagunceiro. Ele recebe um aviso, uma advertência da escola, uma, duas , três vezes. Na quarta tem de pegar uma suspensão ou ir para a diretoria para aprender. Como o Brasil, está sendo a mesma coisa”, afirma Solimeo.
O presidente da associação comercial, Alencar Burti, tem a mesma avaliação. Em nota, diz: “É lamentável, embora fosse previsível, o rebaixamento (…). É urgente que se resolva com urgência a crise política e que sejam adotadas medidas efetivas de ajuste das contas públicas, pelo corte de gastos para estabilizar a economia em 2016 e permitir a retomada do crescimento a partir de 2017.”
INDÚSTRIA
A notícia do rebaixamento também já era esperada pela Fiesp, federação das indústrias paulistas.
“A perda do grau de investimento só comprova o que estamos falando há tempos: o Brasil está com um problema sério. Todos os dias temos uma má notícia, e tudo isso é causado pelo atual governo, que perdeu completamente a credibilidade, levando o Brasil a um desequilíbrio e a uma crise política”, diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
“O cenário poderia ser outro se o governo tivesse eliminado desperdícios, reduzido seus gastos e feito o ajuste das suas contas”, afirmou.
BANQUEIROS
O presidente do Itaú BBA, Candido Bracher, disse quarta (16) que as repetidas mudanças nas metas fiscais justificam o novo rebaixamento de avaliação de risco de crédito.
“É difícil ficar surpreso com essa notícia. Estava dentro do ambiente de coisas possíveis de acontecer. O timing que não era conhecido”, disse.
Bracher ponderou que o Brasil já foi um país considerado grau especulativo (alto risco de calote), mas que a havia uma fragilidade relevante nas contas externas que tornava o país mais vulnerável. “As reservas internacionais são altas e a geração de dólares não tem sido um problema”, disse.
HISTÓRICO
O rebaixamento ocorre uma semana depois de a agência Moody’s colocar a nota do país em revisão para rebaixamento. A Moody’s rebaixou o país em agosto, colocando-o no último nível do grau de investimento -atestado de que é um bom pagador de suas dívidas.
Em setembro, a agência S&P já havia colocado a nota do Brasil em grau especulativo, questionando o comprometimento e coesão do governo para arrumar as contas públicas.
A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.
O selo de bom pagador, que é um reconhecimento de que o país é um lugar seguro para os investidores, costuma ser exigido por fundos de investimento e de pensão bilionários para aplicar em títulos de dívida de governos. Normalmente, pedem que a aplicação seja considerada grau de investimento por, pelo menos, duas das grandes agências.
Além disso, quanto melhor a classificação, menor o custo da dívida para o país.
GRAU DE INVESTIMENTO
O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro -ou seja, com baixo risco de calote.
As três agências risco de maior visibilidade no mundo são a Standard & Poor’s, a Moody’s e a Fitch Ratings.
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E EU COM ISSO? A NOTA E SEU BOLSO
1 O que é a nota de risco?
Uma avaliação da capacidade de países ou empresas para pagar suas dívidas
2 Quem faz a avaliação?
As chamadas agências de rating. As três principais são a S&P, a Moody’s e a Fitch
3 Quais os critérios de avaliação?
O principal, no caso de um país, é o estado das contas públicas, ou seja, se o governo conseguirá manter seus gastos menores que as receitas para permitir o pagamento dos empréstimos
4 Qual a situação do Brasil?
O país deve fechar o ano com rombo nas contas públicas pela segunda vez consecutiva. A dívida pública brasileira, como porcentagem do PIB, é crescente
5 Como estão as notas de risco brasileiras?
A agência S&P já havia tirado do Brasil em setembro o grau de investimento (selo de bom pagador), colocando o país no grupo de países com grau especulativo (mais risco de calote). A Moody’s colocou a nota do país em revisão para possível rebaixamento
6 Por que a Moody’s vai revisar a nota?
A agência afirmou que as condições econômicas e a governabilidade pioraram rapidamente, o que reduz a capacidade de o governo poupar para pagar sua dívida
7 Qual o problema de perder o grau de investimento?
- Quanto mais baixa a nota de um país ou empresa, mais altos são os juros exigidos pelos credores para conceder crédito
- Como consequência do aumento dos juros e da saída de investidores, a recessão se agrava, a dívida tende a subir e o dólar fica ainda mais caro, pressionando a inflação
8 O que acontece quando o país perde o grau de investimento em duas agências?
O rebaixamento por duas agências de classificação de risco significa retirada de recursos investidos no Brasil, já que parte dos grandes fundos de investimento exige o selo de pelo menos duas agências para manter suas aplicações.