Falta de eficiência barra a participação do País no comércio global; em crise, indústria derrapa e não contribui para um resultado melhor

Após o Brasil encerrar 2014 com o pior déficit na balança comercial desde 1998, com um saldo negativo de US$ 3,93 bilhões, projeções do relatório Focus, do Banco Central, indicam para um superávit de US$ 15 bilhões neste ano. A melhora das contas externas, porém, pouco tem a ver com um aumento da participação do País no mercado externo via exportação e, sim, com uma retração no volume das importações.

País esbarra na baixa competitividade para vender ao exterior

Com a recessão na economia e a escalada do dólar, as compras no exterior recuaram 23,1% no acumulado do ano até novembro, em relação ao mesmo período de 2014, enquanto as vendas internacionais registraram queda menor, de 14,9%, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

“Esse saldo positivo na balança tem um gosto amargo. Não foi a competitividade que melhorou o resultado. O saldo positivo foi causado por fatores degenerativos”, afirma o professor da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Arbache.

Com a ausência do País nas cadeias globais de valor, que são o conjunto de atividades necessárias à produção e para a entrega do produto ao consumidor, o economista avalia que a valorização do dólar, que acumula alta de 40% no ano, tem efeito apenas “tópico”, como para exportadoras de commodities.

No caso da maior exportadora de cobre refinado do País, a Paranapanema, a valorização cambial está compensando a retração do mercado interno. Com a recessão no País, que derrubou setores que demandam muito cobre, como a construção civil, a empresa direcionou sua produção para o exterior. A fatia subiu para 56% neste ano, ante 37% em 2014. “Nossa moeda de custo é o real. Estamos mais competitivos”, diz o presidente, Christophe Akli.

Segundo o executivo, a redução do preço do cobre, que caiu abaixo de US$ 5 mil por tonelada pela primeira vez desde a crise de 2008, não afetou a companhia. “Quem leva o prejuízo são as minas, nós agregamos valor ao transformar o cobre em vergalhões, fios, tubos”, diz Akli.

Mais que a questão do dólar, a razão da Paranapanema ter sucesso no comércio exterior está relacionada justamente com a capacidade da empresa em agregar valor ao seu produto. E esse é, justamente, um dos gargalos da competitividade brasileira.

Segundo ranking do Fórum Econômico Mundial, o Brasil teve o pior desempenho entre as 140 nações incluídas na lista global de competitividade em 2015. Ao cair 18 posições, o País chegou a 75ª colocação, sendo superado por outros emergentes como México e Índia.

A fraca competitividade do País, dizem especialistas, explica a pouca participação do Brasil no comércio exterior. De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), a fatia brasileira caiu para 1,2% em 2014, ante 1,3% em 2013. Para se ter uma ideia, o melhor momento do Brasil nas exportações internacionais desde 2005 foi em 2011, quando respondia por 1,4% da fatia total do bolo do comércio global.

“Países como a Tailândia e a Malásia têm fatias maiores que a nossa. Isso é reflexo de quão desproporcional é nossa competitividade”, diz o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.

Na visão do professor da Universidade de São Paulo (USP), Celso Grisi, fatores como infraestrutura logística ineficiente e o chamado ‘custo Brasil’, que engloba a alta carga tributária e a pesada burocracia, são gargalos que derrubaram a competitividade brasileira. “Para conquistar mercados, precisamos deslocar concorrentes e isso requer investimento. Mas como investir num cenário de crise e restrição ao crédito?”, indaga.

Indústria. A fraca participação do Brasil no comércio exterior também se relaciona com a queda na participação da indústria nas exportações, avalia Rafael Cagnin, do Iedi. O peso dos manufaturados caiu de 53% em 2005 para 34% no ano passado, com o aumento da participação de combustíveis, minérios e produtos agrícolas, que passaram a ser o principal grupo de bens, com 40% de participação.

“A retração dos manufaturados nas exportações é mais um reflexo da crise da indústria nacional”, explica Cagnin.

Além de encarar um forte recuo nas vendas e na produção, a indústria ainda foi impactada com um aumento de custos em função do aumento da energia, que acumula alta de quase 50% em 2015, e dos preços dos insumos importados. O resultado foi um agravamento da crise no setor. Segundo um levantamento do Iedi, com base em dados fornecidos pela OMC, o indústria brasileira respondeu por apenas 0,61% dos manufaturados no comércio global, ante 0,85% há dez anos.