O ditado popular diz que vaso ruim cai, mas não se quebra. Essa máxima popular pode ser aplicada ao presidente Michel Temer. Ontem (2) ele conseguiu escapar da denúncia de corrupção passiva apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A Câmara dos Deputados rejeitou, por 263 a 227 votos, duas abstenções e 19 ausências, a continuidade desta denúncia contra Temer.

Não é segredo para ninguém que ele transformou o seu governo num balcão de negócios, liberando dinheiro através de emendas para inúmeros parlamentares. Esta notícia circulou em diversos veículos de comunicação. Temer não fez isto por que é bonzinho, mas para continuar no cargo.

 

“Não podemos abaixar a cabeça, precisamos continuar mobilizados”

 

 

Esta foi a primeira vez, que a Câmara dos Deputados votou uma solicitação para instauração de processo contra um presidente da República. Nem Fernando Color de Mello, em 1992, passou por essa experiência, ressalvando que ele renunciou por causa de um escândalo que começou envolvendo uma perua Elba. Comparado com as acusações que pesam contra Michel Temer, Collor foi um ladrão de galinhas.

Por outro lado, o Brasil prossegue descendo a ladeira, igual caminhão de 42 toneladas, carregado e sem freios. Mesmo com diversas reportagens elogiando o governo, obtidas por meios de verbas milionárias da secretaria de comunicação do Executivo, não é mais possível tentar esconder o sol com a peneira.

Já se antecipando a entrada em vigor da reforma trabalhista em novembro, inúmeras empresas, inclusive estatais, caso dos bancos do Brasil e Caixa, planejam demissões, usando a capa de PDV (Programa de Demissões Voluntárias). O próprio governo promete enxugar 5 mil postos de trabalho.

Michel Temer, como já citei em outro editorial, obedece cegamente às ordens da elite econômica brasileira e internacional: destruição total das conquistas trabalhistas e das entidades sindicais. Quem pensar o contrário, provavelmente acredita em conto de fadas ou que a cegonha é quem traz o filho após nove meses de gravidez.

Cabe ao movimento sindical e às organizações da sociedade civil prosseguir nas mobilizações. O momento não é de abaixar a cabeça e cair no conformismo. Do contrário, seremos exterminados. Este é o desejo da elite que suga os recursos do Brasil há mais de 500 anos. Para essa pequenina parcela da população, o melhor regime de trabalho é a escravidão, onde ninguém tem direito; apenas o de enfrentar mais de 16 horas de serviço a troco de comida, sem direito de não falar nada. Do contrário, vai para o tronco receber chibatadas.

Num primeiro momento existe a sensação de vazio, de que tudo acabou. Mas a própria história do sindicalismo revela que em momentos parecidos ao que vivemos atualmente, s0luções foram encontradas.

Tragédias iguais a ocorrida em Nova York, em 1911, quando um desastre industrial provocou a morte, num incêndio, de 123 mulheres e 23 homens em uma tecelagem, acelerou para implantação de critérios rigorosos de segurança do trabalho. Esse incêndio contribuiu para a instituição do Dia Internacional da Mulher.

Destaco aqui também a Revolta de Haymarket no dia 4 de maio de 1886 em Chicago, Estados Unidos, quando as autoridades reprimiram manifestações de trabalhadores que exigiam redução da jornada de 16h para 8h diárias. Oito líderes acabaram presos, dos quais quatro acabaram mortos e os demais condenados à prisão perpétua.

A classe trabalhadora prosseguiu mobilizada para que ocorresse a revisão da pena dos condenados pela Justiça. Dois anos depois, três presos foram considerados inocentes. Em 1893, o restante acabou libertado e a inocência dos demais foi reconhecida. Antes, em 1890, o governo dos Estados Unidos fixou o limite da jornada de 8h de trabalho naquele país. Desta luta é que surgiu a deliberação para criação do dia 1º de maio, como o Dia do Trabalho. Continuaremos lutando, como ocorreu no passado quando a elite jogou pesado para que direitos não fossem colocados em prática.