A última reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária), que começa nesta terça (24), deverá manter os juros inalterados em 14,25%, mas traz a expectativa de o Banco Central registrar oficialmente em seu comunicado as sinalizações já feitas ao mercado de que pode voltar a subir a taxa em 2016.
Em seus últimos contatos com economistas do mercado, a diretoria do BC tem dito que voltará a apertar a política monetária se as previsões indicarem forte risco de a inflação encerrar 2016 acima do teto da meta (6,5%).
O relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (23) pelo BC, que traz as previsões do mercado sobre o comportamento da economia brasileira, reforçou essas expectativas ao prever que o IPCA possa fechar o próximo ano em 6,64%. Na semana passada, a previsão era de 6,5% (leia nesta página).
Na avaliação de analistas, essa indicação de que a inflação pode estourar o teto da meta pelo segundo ano consecutivo recomendaria ao BC oficializar em seus documentos a disposição de subir os juros para tentar mantê-la abaixo de 6,5% em 2016 e buscar sua convergência para 4,5% no final de 2017.
Essa medida, segundo economistas, poderia contribuir para mudar as previsões do mercado nas próximas semanas, ajudando a reancorar as expectativas do mercado sobre a trajetória da inflação no próximo ano.
A dúvida sobre a decisão do BC, a ser divulgada nesta quarta-feira (25), vem dos mais recentes indicadores sobre o ritmo da economia brasileira. O relatório Focus prevê um retração de 3,15% neste ano, ante 3,10% na semana passada, o que tem elevado o desemprego no país.
Em outubro, o país eliminou mais de 169 mil vagas com carteira assinada, o pior resultado para o mês desde outubro de 1992. No ano, foram mais de 818 mil postos cortados.
MIRA
Diante da forte desaceleração da economia, o BC poderia deixar inalterada não só a taxa de juros, hoje em 14,25% ao ano, mas seu comunicado mais recente, divulgado na reunião de outubro.
Nele, o Copom disse que manteria a Selic no mesmo patamar por “tempo suficientemente prolongado” para garantir a convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, no horizonte relevante da política monetária, que é o final de 2017.
Só que, em seus contatos com analistas de mercado, diretores do BC têm destacado que o banco irá fazer seu trabalho mirando a inflação, e não o crescimento da economia. Entre seus técnicos, por sinal, a avaliação é que o desemprego irá contribuir para segurar as previsões de alta de preços.
A ameaça de subir os juros em 2016 preocupa a área política do governo Dilma, que neste momento pressiona a equipe econômica a adotar medidas para retomar o crescimento da economia e melhorar a popularidade da presidente, afastando de vez a hipótese de abertura de um processo de impeachment.
Assessores presidenciais reconhecem que, hoje, não há espaço para redução das taxas de juros, mas esperam que o BC não venha a elevá-los ao longo do próximo ano e desejam que no médio prazo a política monetária possa ser flexibilizada.
Inicialmente, o Banco Central trabalhava com um cenário de corte dos juros em meados do ano que vem, mas a demora na aprovação do ajuste fiscal e novos aumentos de preços públicos levaram a uma alta da inflação e mudaram os planos do BC.