A divulgação dos números sobre a inadimplência de pessoas físicas e de empresas arrefeceu qualquer expectativa otimista às vésperas da última segunda-feira, Dia da Criança.
Em setembro, 57 milhões de pessoas tinham dívidas em atraso, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Número muito elevado, superior em 2,4 milhões ao de dezembro de 2014, embora ligeiramente menor que o de agosto, quando o número de CPFs “negativados” era de 57,2 milhões. Outra consultoria especializada em informações cadastrais, a Serasa Experian, calculava que, em agosto, dos 7,9 milhões de empresas em atividade, 4 milhões tinham algum problema de inadimplência e as dívidas totais somavam R$ 91 bilhões.
O endividamento excessivo é um fator de restrição da demanda, pois limita ou impede o acesso ao crédito, salvo em condições ainda mais onerosas do que as aplicadas aos devedores pontuais. E no caso das famílias, afetadas pela diminuição da renda, pelo desemprego ou pela perda de poder aquisitivo dos salários decorrente da inflação, uma das saídas é cortar o consumo, até de bens essenciais.
O SPC Brasil calcula que 38,9% da população brasileira adulta está endividada. As pendências mais antigas (3 a 5 anos) foram as que mais se agravaram (+15,62% em 12 meses). As dívidas com mais de um ano de atraso já representam 71% do total.
E os que mais se endividaram foram os consumidores mais velhos, com idade entre 65 e 84 anos. Vários fatores se combinam para explicar esse fato, tais como o aumento da expectativa de vida, a entrada tardia dos jovens no mercado de trabalho e algumas facilidades creditícias, como o crédito consignado para os beneficiários da Previdência Social, que oferece cobertura ampla.
Os maiores atrasos ocorreram nas contas de água e de luz (+12,55% em relação a setembro de 2014), mas as dívidas com bancos registram o segundo maior crescimento (+10,32%) – e este é um fato novo, pois as pessoas evitam ao máximo os atrasos com bancos, para não perderem o crédito.
Em setembro, havia 23,76 milhões de endividados no Sudeste, mas foi no Nordeste, com 15,15 milhões de inadimplentes, que as dívidas mais cresceram. A recessão e a inflação parecem afetar com mais intensidade justamente as pessoas que vivem nas regiões mais pobres e que mais dependem de programas de ajuda oficiais.