União tinha anunciado antes um corte de R$ 23,4 bilhões no orçamento.
Relatório do orçamento não traz informações sobre revisão da meta fiscal.

 

O governo federal autorizou nesta terça-feira (22) um novo bloqueio de gastos no orçamento de 2016, desta vez de R$ 21,2 bilhões. O corte foi anunciado pelo Ministério do Planejamento por meio do relatório de receitas e despesas do orçamento.

Esse valor se soma ao bloqueio de R$ 23,4 bilhões anunciado em fevereiro. Com isso, o corte total, na peça orçamentária de 2016, chega a R$ 44,65 bilhões.

“O decreto com atualização da Programação Orçamentária e Financeira [com a distribuição dos cortes entre os ministérios] será publicado no Diário Oficial da União até o dia 30 de março”, informou o Ministério do Planejamento.

O novo bloqueio de gastos no orçamento deste ano visa cumprir a meta de superávit primário, isto é, a economia para pagar juros da dívida pública, de R$ 24 bilhões para o governo central – União, Previdência Social e Banco Central – fixada no orçamento aprovado pelo Congresso x Nacional para este ano.

Revisão da meta fiscal
No mês passado, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, anunciou que enviaria ao Executivo um projeto de lei para abater até R$ 84,2 bilhões na meta fiscal do governo neste ano e, desta forma, permitir um rombo nas contas públicas de até R$ 60,2 bilhões em 2016.

O documento divulgado pelo Ministério do Planejamento não informa se o governo ainda pretende enviar esse projeto de lei ao Legislativo. Em entrevista a jornalista no Congresso, no início da noite desta terça, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosax, disse que o projeto deve ser encaminhado até amanhã.

“Devemos encaminhar amanhã o projeto que altera a meta desse ano. Nós não temos o número ainda. Estamos fechando esse número e teremos amanhã”, disse Barbosa. O valor do déficit nas contas públicas que o governo pretende pedir autorização ao Congresso pode ser diferente dos R$ 60,2 bilhões anunciados em fevereiro.

Produto Interno Bruto
Além de anunciar um corte adicional de gastos, o governo também passou a prever uma contração de 3,05% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Até então, a estimativa oficial era de uma queda menor, de 2,9% para 2016.

Mesmo com essa revisão, a estimativa ainda está mais otimista do que aquela feita pelo mercado financeiro. Na semana passada, os economistas dos bancos, ouvidos pelo Banco Central, previram um “encolhimento” de 3,6% para o PIB neste ano.

Inflação
O governo confirmou oficialmente, por meio do decreto de programação orçamentária, que a inflação deverá ficar acima do previsto anteriormente e poderá estourar novamente o teto da meta para este ano – de 6,5%. Até então, constava uma previsão de inflação de 7,10%, valor que passou para 7,44% no relatório de receitas e despesas divulgado nesta terça.

Receitas e despesas
Segundo o relatório de receitas e despesas, o corte adicional de despesas se deve à uma revisão, para baixo, das estimativas de receita líquida de transferências de R$ 20,2 bilhões.

Entretanto, o governo passou a estimar um ingresso em suas contas de R$ 35 bilhões com o processo de regularização de ativos no exterior. Até então, a previsão era do ingresso de R$ 21 bilhões neste ano.

O documento também traz a previsão de R$ 10,1 bilhões em receitas da CPMF – que ainda não foi aprovada pelo Congresso Nacional – em 2016. Além disso, o governo prevê outros R$ 11,3 bilhões em receitas extraordinárias.

“As receitas extraordinárias, como regra, decorrem da recuperação de arrecadação referente a fatos geradores passados, em função da atuação direta da administração tributária, seja pela aplicação de autos de infração ou cobrança de débitos em atraso”, informou o governo.

Mesmo assim, o governo informou que reestimou suas receitas para baixo, em R$ 8,7 bilhões neste ano, em relação à previsão feita em fevereiro.

Rombo do INSS
O governo também elevou, de R$ 129,68 bilhões para R$ 136 bilhões, a estimativa de déficit em 2016 do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sistema público que atende aos trabalhadores do setor privado.

Segundo o governo, a previsão de déficit foi aumentada em R$ 6,3 bilhões devido à “frustração observada na nova estimativa da arrecadação líquida” frente à “manutenção da estimativa da despesa com benefícios previdenciários em relação à avaliação anterior”.

No ano passado, segundo o governo, a Previdência teve déficit de R$ 85,81 bilhões (diferença entre as receitas e o pagamento de benefícios previdenciários), ou 1,5% do PIB. Em 2014, o resultado negativo foi de R$ 56,69 bilhões – o equivalente a 1% do PIB.

Por conta da piora da crise política, o Ministério da Fazenda já admite que a proposta de reforma da Previdência Social poderá não ser mais enviada ao Congresso no mês de abril – que era ocompromisso inicial do governo.

A ideia da equipe econômica é aguardar o fim das reuniões do fórum da Previdência, no dia 8 do mês que vem, quando o contexto político já estará mais definido, para reavaliar o cenário e depois decidir o que fazer.