“Teto de vidro” em grandes empresas é um dos motivos para que elas recebam apenas 72% do que eles ganham em regiões desenvolvidas do Brasil. Para especialista, ação pública é fundamental
São Paulo – A diferença entre os salários de homens e mulheres é maior nos Estados mais ricos do Brasil, de acordo com dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Distrito Federal, onde está o maior rendimento médio real do País, de R$ 3.627, as brasileiras recebem 80% do que recebem os brasileiros – R$ 3.189 ante R$ 4.006. Na ponta oposta, o ganho médio é de R$ 1.089 no Maranhão, onde elas recebem 91% do salário deles – R$ 1.023 contra R$ 1.130.
Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, estão os rendimentos mais desiguais. Em São Paulo, por exemplo, as mulheres ganham 72% do salário dos homens. Enquanto isso, as regiões Norte e Nordeste registram quadros mais semelhantes. O Amapá é o único Estado do País em que elas ganham mais: R$ 2.014 frente a R$ 1.961, deles.
Um dos motivos desse fenômeno seria o salário mínimo. “Como esse piso não faz diferenciação por sexo, existe a tendência de que os Estados com rendimentos mais próximos do mínimo registrem uma igualdade maior”, afirma Virene Matesco, professora de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Em teoria, o Estado não faz discriminação entre gêneros”, segue ela. Entretanto, a ascensão delas seria mais difícil. “As brasileiras têm maior dificuldade para subir na hierarquia estatal”, indica.
O problema também é visto no setor privado. “É o que nós chamamos de teto de vidro”, comenta Viviane Narducci, diretora da Narducci Consulting, que trabalha com gestão de pessoas.
“Em várias empresas grandes, as mulheres só sobem até certo ponto. Dali em diante, a quantidade de homens em cargos elevados é muito maior. Esse é um dos motivos para os Estados mais ricos terem essa distância mais elevada entre os salários”, explica ela.
A ausência de gestoras seria, inclusive, prejudicial para as próprias companhias, diz Narducci, antes de mencionar estudo recente da McKinsey. Segundo a análise, o retorno do capital próprio é 44% maior nas empresas com mulheres em seus comitês executivos, em comparação com as empresas que têm liderança composta apenas por homens.
“Há uma questão importante de equilíbrio entre os gêneros. As mulheres, em especial, são conhecidas por algumas competências necessárias ao ritmo das organizações contemporâneas, como capacidade em atuar em multiprocessamento, persistência e adaptabilidade. Esses fatores certamente influenciam no rendimento das empresas.”
Diferença em queda
Entre o primeiro trimestre de 2012 e o terceiro de 2016, a disparidade entre os salários caiu no País. Há pouco mais de quatro anos, elas ganhavam 73% do que eles recebiam. Hoje, ganham 78%.
Para Antonio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), foi fundamental a maior inserção feminina nas universidades brasileiras. “Atualmente, elas são maioria nas faculdades.”
O especialista diz que o problema deve diminuir quando houver maior presença das mulheres em áreas dominadas por homens, como engenharia, direito e o mercado financeiro – onde também estão os maiores salários.
“Isso acontece porque são áreas muito fechadas: não há uma rede de apoio, um estímulo, até mesmo uma base para network, que ajude as mulheres a crescer nesse tipo de segmento”, explica.
Segundo o entrevistado, é fundamental que o governo proponha ações afirmativas, como cotas, para igualar os rendimentos no Brasil.
“É importante, inclusive, que os partidos políticos deem mais espaço para as mulheres. Hoje, nove em cada 10 congressistas são homens. Não é um bom exemplo”, afirma ele.
Já Matesco fala sobre o preconceito no mercado de trabalho. “As mulheres, de modo geral, têm escolaridade mais elevada, mais tempo de escola, participam de maior quantidade de cursos de capacitação, e ainda assim, ganham menos. É difícil dizer que não há discriminação”, afirma.
Ela cita também outras formas de intolerância. “Existem, por exemplo, muitas empresas que preferem não contratar mães ou mulheres casadas.”
Números
Outro Estado do Brasil com distância elevada nos rendimentos é Mato Grosso do Sul, onde as mulheres recebem 72% do salário dos homens. A diferença é grande em todo o Centro-Oeste: Mato Grosso (72%) e Goiás (73%).
O buraco também é grande no Sul e no Sudeste. Na primeira região, a maior desigualdade está no Rio Grande do Sul (72%), mas Santa Catarina (74%) e Paraná (76%) ainda encaram o problema. Já no Sudeste, Minas Gerais (75%) encontra menor igualdade que Rio de Janeiro (77%) e Espírito Santo (78%).
Por outro lado, Estados do Nordeste e do Norte registram quadros melhores. No Acre, elas recebem 91% do que eles recebem. Situação semelhante é vista em Roraima (89%), Alagoas (89%), Pernambuco (87%), Amazonas (87%), Pará (86%), Piauí (85%), Bahia (83%) e Rondônia (83%).