O estoque de crédito e as concessões de novos empréstimos encolheram pelo segundo mês consecutivo em julho, em um ambiente de alta de juros e novo aumento da inadimplência.
Segundo dados do Banco Central divulgados nesta quinta-feira (25), o estoque recuou 0,4% entre junho e julho, para R$ 3,12 trilhões. Esse é o menor valor em 12 meses. Em julho do ano passado, o estoque estava em R$ 3,11 trilhões.
Na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto), o crédito passou de um recorde de 54,5% no final de 2015 para 51,4% em julho deste ano. É o menor patamar desde agosto de 2014, quando estava em 51,3%.
As concessões de novos empréstimos também recuaram no mês passado, uma queda de 6,9% em relação a junho, considerando a média diária de R$ 12,7 bilhões.
A inadimplência, que recuou em junho para 3,5%, voltou a subir no mês passado, para 3,6%. Ainda está, no entanto, abaixo do pico de 3,7% verificado em maio deste ano.
JUROS DO CARTÃO E DO CHEQUE ESPECIAL
As taxas médias de juros seguem batendo recordes. No crédito ao consumo, por exemplo, subiu de 59,5% para 71,9% ao ano entre julho de 2015 e o mesmo mês de 2016. Um dos destaques é o cheque especial, que passou de 246,9% para 318,4% ao ano no período.
Esse é o quinto recorde consecutivo dessa taxa, que está desde março no maior patamar registrado nas estatísticas do Banco Central, que começam em julho de 1994, com o Plano Real. O custo dessa linha de crédito praticamente dobrou nos últimos dois anos. O estoque do cheque especial encolheu 6,3% nos últimos 12 meses. A inadimplência, que chegou a 18,1% em dezembro de 2015, atingiu o menor patamar deste ano em abril (14,5%) e subiu para 15,7% em julho. Juntos, cheque especial e rotativo respondem por cerca de 10% do crédito ao consumo no país.
A taxa mais alta continua sendo a do rotativo do cartão de crédito, que estava em 394,4% há um ano, chegou ao recorde de 471,5% em maio e caiu para 470,7% ao ano em julho deste ano.
“O mercado de crédito evolui de uma maneira bastante contida neste ano, refletindo principalmente um nível de atividade em patamar baixo, indicadores de confiança que mostram na margem recuperação, mas que estão em níveis historicamente baixo. E reflete também a evolução do custo de crédito”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.
REVISÃO
Maciel afirmou que os números dos últimos meses devem levar o BC a rever para baixo a previsão de crescimento do estoque de crédito neste ano, que é de 1% atualmente. A próxima revisão está marcada para setembro.
Uma das principais linhas que impulsionaram o crédito nos últimos anos, os empréstimos subsidiados do BNDES para empresas, por exemplo, encolheu 7,2% desde o início do ano. Essas operações ainda representam cerca de 20% do crédito total no país.
Entre os motivos para essa queda está o aumento das taxas. O juro dos empréstimos do banco estatal para investimentos praticamente dobrou desde o final de 2014, quando o governo começou a cortar esses subsídios, e está hoje em 13% ao ano.
Outra linha com forte desaceleração é o crédito imobiliário, que chegou a crescer 55% em 2010, fechou 2015 com expansão de 16% e tem mantido uma taxa de crescimento em torno de 9% nos últimos meses.
Sobre a inadimplência, Maciel afirmou que os números ainda estão “comportados” quando se considera as condições atuais do mercado de crédito e o aumento de desemprego. Um dos motivos para isso, segundo ele, é o aumento de 16% na renegociação de empréstimos para pessoas físicas e também um número maior de reestruturações de dívidas de empresas em dificuldades.