Quase 200 mil brasileiras saíram do grupo de trabalhadores ocupados desde que 2015 começou. O rendimento real delas também caiu, chegando a R$ 1.531. Números dos homens são melhores

Os índices de rendimento real e emprego caíram mais para as mulheres desde o começo de 2015. Elas são maioria também entre os desocupados no País.

A crise econômica, que até o ano passado havia poupado o emprego, é sentida pelo mercado em 2015. De janeiro em diante, a desocupação cresceu rapidamente, chegando a 8,3%. O rendimento real teve queda no mesmo período, descendo a R$ 1.829. Até agora, essas mudanças afetaram mais as mulheres do que os homens.

A quantidade de trabalhadoras ocupadas caiu quase 200 mil, de 10,72 milhões no primeiro mês do ano para 10,54 milhões em julho. Para os homens, que são maioria no mercado, a diminuição foi mais leve: de 12,28 milhões para 12,20 milhões no mesmo período, cerca de 60 mil. Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

“A tendência observada em períodos de crise indica que os grupos mais vulneráveis sofrem mais. São os primeiros a ser demitidos, perdem, proporcionalmente, mais renda e muitas vezes são jogados para o mercado informal”, explica Roberto Piscitelli, professor de economia da UNB. “Se fizermos uma comparação entre brancos e negros, perceberíamos a queda de emprego maior para o segundo grupo. Se pegarmos adultos e jovens, a diminuição seria mais intensa para os mais novos”, exemplifica o economista.

A quantidade de pessoas desocupadas – aquelas que procuram emprego e não o encontram – também é maior no sexo feminino. Em julho deste ano, eram 988 mil brasileiras desocupadas. No mesmo mês, havia 856 mil homens que não encontravam trabalho no Brasil.

“Se elas não estivessem procurando emprego e estivessem saindo do mercado para ficar em casa ou estudar, esse número [de desocupadas] não estaria inflado”, afirma Piscitelli. “Também há muitas mulheres que não trabalhavam e passaram a procurar alguma ocupação com a chegada da crise, muitas vezes para melhorar a renda familiar”, completa ele.

A variação no rendimento médio real também prejudica mais o sexo feminino, que já possui ganhos inferiores. Para elas, houve diminuição de R$ 1.554 para R$ 1.531 entre janeiro e junho. Os ganhos médios deles ficaram estáveis em R$ 2.048 no mesmo período. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua trimestral (PNAD), também do IBGE.

Piscitelli ressalta que a diferença salarial entre os sexos sempre existiu e lembra: “ainda temos o fator inflação, que encarece o custo de vida e complica ainda mais a situação”. O IPCA, índice oficial para medição do aumento de preços, já acumula alta superior a 7% neste ano.

A desigualdade entre os gêneros no mercado de trabalho foi medida pelo Fórum Econômico Mundial (FEM). Em ranking elaborado pelo instituto, o Brasil aparece na 71ª posição entre os países com menor disparidade. No topo da lista, aparecem Islândia, Finlândia e Noruega. Segundo previsão feita pelo FEM, as mulheres de todo o planeta só receberão salários iguais aos dos homens em 2095, daqui a 80 anos.

Piscitelli avalia o cenário em um futuro mais próximo: “não vejo boas perspectivas para o mercado de trabalho brasileiro neste ano, que não deve apresentar nenhuma melhora. Talvez vejamos alguma reversão até o final de 2016”.

Meta da ONU

No final do milênio passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu uma série de metas para aumentar a igualdade e combater problemas sociais em todo o planeta. Uma das propostas do documento é “promover a igualdade entre os gêneros e empoderar as mulheres”.

Para atingir esse objetivo, os quase duzentos países-membros deveriam incentivar oportunidades iguais para mulheres e homens, aumentando os números de meninas nas escolas e de parlamentares do sexo feminino até o final de 2015. Perto do prazo-limite estabelecido pela Organização, o Brasil aparece na parte de baixo da tabela que reúne os países com representatividade política mais igualitária.

A porcentagem de mulheres eleitas para exercerem cargos no Legislativo subiu menos de quatro pontos percentuais durante os últimos 25 anos. Em 1990, 5,3% das câmaras eram compostas por profissionais do sexo feminino. Com as eleições do ano passado, o número ficou em 9%. Ou seja, para cada 100 senadores, deputados e vereadores homens, há menos de 10 mulheres com os mesmos cargos.

Entre os países que conseguiram resultados melhores que o Brasil, se destacam o Afeganistão, que apresentou crescimento de 3,7% para 27,7% e a Bolívia, que teve alta de 9,2% para 53,1%. Argentina, China, Cuba, Estados Unidos e Rússia também estão no grupo dos que atingiram proporções menos desiguais.

Fonte: DCI