O aumento das exportações não trouxe alívio para os trabalhadores das poucas cidades brasileiras que ampliaram suas vendas para o exterior no ano passado. No sentido contrário, a maioria desses municípios registrou perda de vagas formais em 2015.

A lista das cidades que tiveram maiores receitas com exportações no ano passado tem Jacareí na 57ª colocação. A cidade do interior de São Paulo subiu mais de dez posições no ranking graças a um aumento de 241% nos embarques entre 2014 e 2015. Entretanto, o fortalecimento das vendas não gerou mais empregos no município, que perdeu 1.302 postos de trabalho no último ano, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

E o caso de Jacareí não é uma exceção no País. Dentre as cem cidades brasileiras que mais ganharam com exportações, apenas 31 ampliaram suas receitas em 2015, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Mas o crescimento dos embarques só foi acompanhado por um saldo positivo na criação de postos de trabalho em quatro destes municípios.

Um dos motivos para esse fenômeno seria a predominância das commodities na pauta de exportação brasileira, explicou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “O que gera mais emprego é a venda de manufaturados, que ainda não tem peso muito grande no Brasil e diminuiu em 2015”, explicou o especialista.

Pouco mais de 38% das exportações feitas pelo País no ano passado foram de manufaturados, enquanto os produtos básicos representaram quase 46% do total de vendas.

O presidente da AEB também lembrou que o comércio exterior ainda tem participação pequena na economia brasileira, com exportações de bens e serviços compondo cerca de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Para efeito de comparação, Argentina (14,8%), China (22,6%), Índia (23,2%) e Rússia (30%) têm taxas superiores, de acordo com os últimos dados do Banco Mundial.

Já Eduardo Mekitarian, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), afirmou que muitos empresários estão receosos com o “horizonte duvidoso” da economia brasileira. Segundo ele, o cenário instável estaria impedindo um crescimento dos investimentos, o que poderia levar à criação de novos empregos.

O professor ressaltou ainda que a fraqueza da demanda interna tem, em muitos casos, um impacto maior sobre o balanço anual das empresas “do que uma eventual melhora das exportações”, também evitando um incremento na contratação de novos funcionários.

Papel e açúcar

O crescimento das exportações em Jacareí foi impulsionado “por operações da Fibria e da Latécoère, que foram favorecidas pela elevação do câmbio”, disse Emerson Goulart, secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade. Enquanto a empresa do ramo de celulose ampliou em 43% sua receita com vendas para o exterior no ano passado, a Latécoère registrou alta dos rendimentos com operações de drawback no mesmo período.

Goulart justificou a perda de vagas formais na cidade como resultado de um recuo na produção do setor de autopeças durante o ano passado.

Outro município que passou por situação semelhante foi Sertãozinho, também no interior de São Paulo. As exportações locais tiveram alta de 162% em 2015, mas foi registrado déficit na criação de postos de trabalho de 3.913.

“A melhora considerável no preço do açúcar no mercado internacional e o aumento do dólar ajudaram bastante a cidade”, afirmou Carlos Roberto Libone, secretário de Desenvolvimento Econômico de Sertãozinho. Segundo ele, o açúcar é responsável por mais de 50% da atividade econômica local.

Sobre a retração no emprego, Libone mencionou “a desconfiança de usineiros da cidade com a crise” como razão para o saldo negativo. Por outro lado, ele estimou que as empresas do setor de açúcar devem ampliar seus investimentos em 2016 e concluiu com previsão otimista: “a criação de vagas vai ser positiva neste ano”.

Além dos municípios paulistas, duas cidades do Maranhão e uma da Bahia compuseram as cinco primeiras posições entre aquelas que mais ampliaram as exportações no ano passado. Balsas (MA) teve alta de 66%, Imperatriz (MA) registrou incremento de 58% e Dias d’Ávila conseguiu aumento de 46%.

Nas capitais do País, os resultados foram piores. Rio de Janeiro (-29%), Vitória (-24%), Manaus (-12%) e Cuiabá (-35%) tiveram receitas menores com exportações no ano passado. Aumentos moderados foram registrados em São Paulo (0,2%), Porto Alegre (19%), São Luís (9%) e Maceió (24%).

O saldo de vagas, entretanto, foi negativo em todas as capitais citadas, com perdas mais expressivas em São Paulo (-139.133) e Rio de Janeiro (-82.705).

Contraste O crescimento das vendas para estrangeiros, defendido por governo e especialistas como remédio para reaquecer a economia do País, não ajudou o mercado de trabalho em 2015.