BNDES usa verbas do FAT para subsidiar empreiteiras no exterior

O BNDES aumentou a pressão sobre os gestores do FGTS pela liberação dos R$ 10,7 bilhões do FI-FGTS, o fundo bilionário que aplica recursos do trabalhador em infraestrutura.

Conselheiros do FGTS e integrantes do comitê de investimento do fundo estão recebendo telefonemas de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e de seus emissários para acelerar o processo.

O conselho curador do FGTS, que decide onde aplicar os recursos dos trabalhadores, aceitou liberar os R$ 10,7 bilhões desde que o comitê de investimento do FI-FGTS pudesse avaliar o retorno e as garantias dos quase 140 projetos encaminhados pelo banco.

Os técnicos da Caixa Econômica Federal, que administra o FI-FGTS, analisam os projetos há um mês, e a reunião do comitê ocorre nesta quarta (15).

Nas ligações, o banco diz ter urgência do dinheiro para liberar financiamentos já acertados com concessionários de rodovias, portos, ferrovias, aeroportos e energia.

Sem caixa suficiente, o BNDES precisa arrumar R$ 30 bilhões para arcar com os desembolsos programados até o final do ano. O dinheiro do FI-FGTS responderia por cerca de 30% do necessário.

Aos concessionários de rodovias, por exemplo, o BNDES tem de desembolsar cerca de R$ 3 bilhões.

No setor de energia a conta é de R$ 3,4 bilhões. Portos, ferrovias e aeroportos ficariam com R$ 4,3 bilhões.

INCERTEZA

A pressão do BNDES também se explica por outro motivo. Uma das contrapartidas do governo para que o FI-FGTS liberasse os recursos era o envio de um projeto de lei para a criação de um novo fundo de investimento em que o trabalhador poderá aplicar até 30% do seu FGTS, o que ainda não ocorreu.

Com a escalada do desemprego, os saques do FGTS aumentaram, afetando os subsídios do governo a programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida.

Por isso, ainda segundo apurou a Folha, o Ministério da Fazenda está resistente à criação desse novo fundo.

Sem uma sinalização clara do ministério de que o projeto seguirá adiante, representantes dos trabalhadores no conselho curador do FGTS podem atrasar a liberação de recursos.

Uma das saídas em estudo na Fazenda seria limitar as aplicações no novo fundo a 10% do FGTS.

OUTRO LADO

Por meio de sua assessoria, o BNDES não confirmou nem negou a pressão sobre os gestores do FGTS. Segundo o banco, a operação com o FI-FGTS foi aprovada pelo conselho curador do FGTS e será analisada na quarta.

O BNDES negou estar com problemas de caixa e ter contingenciado recursos.

O presidente do banco já declarou que, neste ano, os desembolsos serão inferiores aos de 2014, quando foram liberados R$ 187,8 bilhões.

“Não há nenhum atraso de cronograma”, informa o banco. “As análises dos empréstimos de longo prazo seguem prazo e ritmo normal.”

Fonte: Folha de S. Paulo