Na semana passada, Copom manteve taxa básica em 14,25% ao ano.
Decisão causou críticas ao BC, que vinha sinalizando alta da taxa Selic.
“As incertezas em relação ao cenário externo se ampliaram, com destaque para a crescente preocupação com o desempenho da economia chinesa e seus desdobramentos e com a evolução de preços no mercado de petróleo”, avaliou o Banco Central, por meio da ata da reunião.
A instituição lembra que dois integrantes do Copom votaram pela alta dos subir os juros na ocasião, mas foram vencidos pela maioria dos integrantes do colegiado – que optou por manter a taxa novamente inalterada.
Segundo o BC, a maioria dos membros do Copom considerou que a “elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, sobretudo mais recentemente, justifica continuar monitorando a evolução do cenário macroeconômico para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.
E acrescentou: “para estes membros, faz-se necessário acompanhar os impactos das recentes mudanças nos ambientes doméstico e externo no balanço de riscos para a inflação, o que, combinado com os ajustes já implementados na política monetária, pode fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017”.
Mudança da sinalização e interferência política
O último encontro do Copom foi marcado por polêmica. Isso porque até o início da última semana, o BC vinha adotando um tom mais duro em seus comunicados, indicando que voltaria a subir a taxa de juros. A aposta, até então, era de um aumento de 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano.
Entretanto, no mesmo dia em que teve início a reunião do Copom, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, rompeu o tradicional silêncio que antecede os encontros do Copom para dizer, por meio de nota à imprensa, que considerava “significativas” as revisões das projeções de crescimento em 2016 e 2017 do FMI para o Brasil [para baixo] e acrescentou que estas informações seriam “consideradas nas decisões do colegiado”.
Após esse recado de Tombini, o mercado passou a acreditar que o Copom poderia realizar um aumento menor nos juros, ou até mesmo mantê-los inalterados – o que de fato aconteceu. Economistas do mercado apontaram que o colegiado pode ter sucumbido a pressões políticas, uma vez que havia forte pressão do Partido dos Trabalhadores e do setor produtivo para que a taxa não fosse elevada.
Sistema de metas
Na mesma semana em que o BC manteve os juros estáveis, o mercado financeiro reforçou a dúvida de que o Copom estaria comprometido, de fato, com as metas de inflação e elevou, de forma mais intensa, as suas previsões para o IPCA (a inflação oficial) de 2016 e de 2017. A estimativa para este ano passou de 7% para 7,23% – acima do teto de 6,5% do sistema de metas – e, para 2017, avançou de 5,4% para 5,65%.
A autoridade monetária reafirmou, na ata do Copom, divulgada nesta quinta-feira, que buscará “circunscrever” o IPCA aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2016 (ou seja, trazer a taxa para até 6,5%) e, também, fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017.
O próprio BC admitiu na documento que houve aumento em sua projeção de inflação para 2016 e 2017 no cenário de referência (câmbio e juros estáveis) permanecendo “acima da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2016 e ligeiramente acima em 2017”. No cenário de mercado, que considera as previsões dos analistas dos bancos para câmbio e juros nos próximos meses, a estimativa de inflação do BC também subiu para 2016,, ficando acima da meta de inflação, mas caiu para 2017, permanecendo, porém, “ligeiramente acima da meta de 4,5%”.
‘Determinação, perservevança e medidas necessárias’
Apesar das críticas à atuação do Banco Central e das dúvidas sobtre sua real intenção de fazer a inflação ficar abaixo de 6,5% neste ano e convergir para a meta central de 4,5% em 2017, o Copom reafirmou, no documento divulgado nesta quinta-feira, que é preciso “determinação e perseverança” para impedir a transmissão da inflação (alta no curto prazo) para prazos mais longos.
“Ao tempo em que reconhece que esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação, o Comitê reafirma sua visão de que a política monetária (política de juros para conter as pressões inflacionárias) pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles decorrentes”, acrescentou a instituição.
O Copom também manteve a avaliação de que há “incertezas” associadas ao balanço de riscos, principalmente, quanto à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais (obtenção da meta de superávit primário de 0,5% do PIB para todo o setor público em 2016) e à sua composição, e que o processo de realinhamento de preços relativos mostrou-se mais demorado e mais intenso que o previsto.
“Ainda, que as incertezas em relação ao comportamento da economia mundial se ampliaram. Nesse contexto, o Comitê reitera que adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017”, acrescentou o Banco Central.