Indicado para chefiar BC, Goldfajn será sabatinado no Senado nesta terça.
No mesmo dia, Copom começa nova reunião para definir a taxa Selic.

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne novamente a partir desta terça-feira (7) em meio a uma situação inusitada. Além da decisão sobre mudança ou manutenção da taxa básica de juros da economia brasileira, outro fato gera expectativa no mercado financeiro: a sabatina, no Senado, de Ilan Goldfajn, indicado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para ser o novo presidente do Banco Central.

A sabatina está marcada para começar às 10h desta terça. Na semana passada, houve uma tentativa de antecipa-la por conta da coincidência com a reunião do Copom, mas não houve acordo.

Deste modo, existe a chance de que Goldfajn tenha seu nome aprovado pela comissão e pelo plenário da casa ainda nesta terça.

Depois disso, para que Goldfajn assumisse o cargo bastaria que seu nome fosse públicado em ato do presidente em exercício, Michel Temer, e que ocorresse a posse. E isso pode acontecer antes do fim da reunião do Copom, na quarta-feira (8), quando os diretores e o presidente do BC anunciam seus votos sobre a taxa básica de juros.

A possibilidade de Ilan Goldfajn ter seu nome aprovado na terça-feira e participar somente do segundo dia de reuniões do Copom, na quarta, no lugar de Alexandre Tombini, seria inédita mas não ilegal, segundo o G1 apurou.

Situação parecida já ocorreu, mas com integrantes da diretoria do Banco Central, não com o presidente da instituição. Questionado sobre o assunto, o BC informou que não fará comentários até que o Senado delibere definitivamente sobre a indicação do novo presidente da instituição.

Para poder assumir o comando do Banco Central, Ilan Goldfajn teve de vender sua participação acionária no Itaú-Unibanco, onde era economista-chefe e sócio.

Tombini ou Goldfajn no Copom
O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) chegou a afirmar que o atual comandante do BC, Alexandre Tombini, indicou que não se sentiria confortável para comandar esta reunião do Copom – uma vez que o nome de Ilan Goldfajn já foi formalmente indicado para chefiar a autoridade monetária.

Antes de substituir Tombini, e poder comandar as reuniões do Copom sobre a taxa de juros, Ilan Goldfajn, entretanto, tem de passar pela sabatina da CAE, ter seu nome aprovado pela comissão e posteriormente pelo plenário do Senado Federal.

Após todo esse processo legislativo, que pode ocorrer ainda nesta terça-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros, ainda tem de enviar um comunicado ao presidente em exercício, Michel Temer, que tem de editar um decreto presidencial, e publicá-lo no “Diário Oficial da União”, nomeando-o para o cargo.

Depois disso, Goldfajn ainda tem de tomar posse oficialmente no BC (assinar a documentação) e participar da cerimônia de transmissão de cargo.

Apesar das declarações do senador Raimundo Lira, a reportagem do G1 apurou que Tombini não se sente constrangido em comandar essa última reunião do Copom porque os prazos iniciais já indicavam que não daria tempo de Goldfajn tomar posse e também porque o Banco Central é uma autarquia, com a missão institucional de controlar a inflação, não integrando totalmente o governo.

Além disso, a decisão desta semana é considerada sem polêmica, uma vez que o mercado

aposta maciçamente em nova manutenção dos juros em 14,25% ao ano. Também não há informação de uma movimentação burocrática no governo federal para antecipar a posse de Goldfajn para essa terça-feira, caso a CAE e o Senado aprovem seu nome.

Período de silêncio
Outra controvérsia para Goldfajn comandar o Copom nesta semana é que tanto os diretores do Banco Central quanto o presidente da instituição geralmente não falam nas semanas que antecedem as reuniões sobre a taxa de juros – período de silêncio, também conhecido como “black out”.

O atual comandante do BC, Alexandre Tombini, foi criticado em janeiro deste ano por emitir, no mesmo dia da reunião do Copom, um comunicado indicando que adotaria uma decisão diferente daquela esperada pelo mercado – o que de fato ocorreu.

A divulgação do comunicado foi interpretada pelo mercado como interferência política na decisão do Copom.

Nesta terça, durante a sabatina na CAE, Ilan Goldfajn terá que responder aos mais diversos questionamentos sobre economia que, espera-se, serão feitos por senadores. E isso vai acontecer horas antes do início da reunião do Copom.

Ele deverá discorrer sobre todos os temas inerentes ao BC, como a política de juros, de câmbio, incluindo os chamados contratos de “swaps cambiais” (que funcionam como uma forma de atuação no mercado futuro, quer seja para comprar ou vender dólares), sobre as reservas internacionais e sobre o sistema financeiro.

Foco em Goldfajn
De acordo com Alessandra Ribeiro, diretora da área de Macroeconomia e Política da Tendências Consultoria, o mercado ficará atento à sabatina de Goldafjn para saber o que pensa o futuro comandante do BC, mas não acredita na possibilidade de ele comandar a reunião do Copom desta semana.

“Arriscado ele participar dessa reunião. Recomendável ele participar só da próxima [em julho]. A grande questão é como vai ser conduzida a política monetária [definição dos juros para controlar a inflação] a partir de julho. O mercado continua vendo que há espaço para redução dos juros no segundo semestre. Mas o ponto é o timing, se em agosto, outubro, ou mais para o fim do ano”, declarou ela.

Em meio à forte recessão que ainda se abate sobre a economia brasileira, com o Produto Interno Bruto (PIB) tendo recuado 3,8% no ano passado, com previsão de queda semelhante neste ano, além do aumento do desemprego, o mercado acredita que não há espaço para alta dos juros básicos da economia – apesar de a inflação ainda estar pressionada em 12 meses, mesmo com a desaceleração recente. A expectativa dos analistas é de queda na taxa nos próximos meses.

“Se a dinâmica inflacionária continua a desacelerar e as previsões para 2017 recuarem, achamos que já da para começar a reduzir juros em agosto deste ano”, declarou Alessandra Ribeiro. Para ela, a inflação ficará acima do teto de 6,5% novamente neste ano, mais próxima de 7% em 2016. “Esse ano, esquece”, acrescentou.

Para ela, se o futuro comandante do BC, Ilan Goldfajn, caso tenha seu nome aprovado pelo Congresso, mirar a meta central de 4,5% no ano que vem, entretanto, o processo de queda dos juros pode ficar mais para o fim de 2016. “Ser durão com o PIB caindo 3,5% é mais difícil do que com a economia crescendo. Não está muito claro se vão buscar os 4,5% [para o IPCA em 2017] ou se na casa dos 5% está bom. Se quiser cravar 4,5% [no ano que vem], a redução [dos juros] é mais para o fim do ano”, concluiu ela.