Em 7 dias, Cantareira recebeu três vezes o esperado de chuva para junho. Em uma semana, reservatórios acumularam 175,5mm; média é de 58,1mm.
Sistema opera com 72% do total da sua capacidade.

Na primeira semana de junho, choveu três vezes o esperado para o mês no Sistema Canteira, segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Nesta terça-feira (7), os reservatórios indicavam acúmulo de 175,5mm de água em junho; a média para o mês é de 58,1mm.

O nível de água do Sistema Cantareira registrou alta nos primeiros sete dias deste mês. Nesta manhã, o sistema operava com 72% do total da sua capacidade.

Nas últimas 24 horas, choveu na Cantareira 45,7mm. O acumulado pluviométrico para o mês superou a média esperada no domingo (5).

Os outros cinco sistemas que abastecem a Grande São Paulo também tiveram alta no armazenamento de água, devido às chuvas. Confira os dados atualizados:

– Cantareira: 72% da capacidade
– Alto Tietê: 44,8% da capacidade
– Guarapiranga: 91,9% da capacidade
– Alto Cotia: 105,3% da capacidade
– Rio Grande: 83,6% da capacidade
– Rio Claro: 103,1% da capacidade

Índices
Após uma ação do Ministério Público, aceita pela Justiça, a Sabesp passou a divulgar outros dois índices do Cantareira. O segundo está em 55,7% e considera o volume armazenado na capacidade total, incluída a área do volume morto. O terceiro índice leva em consideração o volume armazenado menos o volume morto na área total dos reservatórios e também se manteve em 42,7% nesta manhã.

O Cantareira chegou a atender 9 milhões de pessoas só na Região Metropolitana de São Paulo, mas atualmente abastece 7,4 milhões após a crise hídrica que atingiu o estado em 2014 e 2015. Os sistemas Guarapiranga e o Alto Tietê absorveram parte dos clientes, para aliviar a sobrecarga do Cantareira durante o período de estiagem.

Volume Morto
A reserva técnica começou a ser bombeada em maio de 2014. Na época, ainda havia água no volume útil. Em julho, porém, o sistema passou a operar somente com o volume morto. Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, alertam que o Cantareira ainda segue em crise porque não se recuperou totalmente. A Sabesp também informou que não descarta voltar a usar a reserva técnica no próximo período seco, com a chegada do inverno.

Arte explica volume morto do Sistema Cantareira (Foto: Arte G1)

O fim da dependência da reserva técnica ocorreu antes do previsto pela Sabesp. A expectativa era de uso até o fim do verão, com probabilidade de 98% de o Cantareira sair do volume morto até abril.

A chuva acima da média nos últimos meses acelerou o processo e as represas acumularam mais água por causa da precipitação intensa e entrada de água no manancial.

 Leia abaixo mais questões sobre o volume morto e a crise hídrica em São Paulo.


O QUE É O VOLUME MORTO
O volume morto é uma reserva com 480 bilhões de litros de água situado abaixo das comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em maio de 2014, bombas flutuantes começaram a retirar essa água. A decisão de fazer essa captação foi tomada por causa da crise hídrica que atingiu o estado de São Paulo no ano passado.

O governo do estado tentou fazer desvios para usar a água de outras represas, mas essas manobras não foram suficientes para atender toda a população da Região Metropolitana de São Paulo. Após o nível do sistema atingir um patamar preocupante, a Sabesp começou a fazer obras para conseguir bombear a água do volume morto.


CRONOLOGIA DO VOLUME MORTO
– 15/05/2014: bombas flutuantes para retirada da primeira reserva técnica são inauguradas.
– 16/05/2014: 182,5 bilhões de litros de água são disponibilizados para abastecimento da Grande São Paulo. Mesmo assim, a sequência de quedas no nível das represas continua.
– 11/07/2014: volume útil do Cantareira acaba e o abastecimento de parte da Região Metropolitana de São Paulo atendida pelo Cantareira é feito somente com a primeira cota.
– 24/10/2014: Sabesp consegue autorização para usar uma segunda cota do volume morto, com 105 bilhões de litros.
– 24/02/2015: segunda cota do volume morto é recuperada, mas a Sabesp ainda depende da primeira cota do volume morto para garantir o abastecimento de 5,4 milhões de pessoas atendidos pelo Cantareira na Grande São Paulo.
– 30/12/2015: sistema consegue recuperar as duas cotas do volume morto e volta a operar apenas com o volume útil.


SAÍDA ANTES DO ESPERADO
O término do uso do volume morto ocorreu antes do esperado pela Sabesp. A companhia de abastecimento havia previsto que o sistema operasse com a reserva técnica até o fim do verão, mas a chuva acima da média nos últimos meses acelerou o processo e as represas passaram a acumular mais água por causa da precipitação intensa e afluência dos rios que desaguam no reservatório.

A companhia de abastecimento informou que usa cenários afluência e pluviometria desde 1930 e que em apenas dois deles não seriam registrados índices de chuva para que o manancial deixasse a reserva técnica até abril. Para fevereiro, a probabilidade de saída do volume morto era de 85%, segundo a Sabesp.

Represa do Sistema Cantareira em agosto de 2015 (Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo)Represa do Sistema Cantareira em agosto de 2015 (Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo)

No mês de novembro de 2015, o sistema registrou 197,6 milímetros de chuva, 23,1% acima da média histórica, de 160,4 mm. O volume ficou atrás apenas do verificado em 2009, quando a precipitação total no conjunto de represas, considerando os 30 dias do mês, foi de 237,6 milímetros.

Nesse mesmo período, o El Niño ganhou força e teve impactos no Brasil, como temporais no Sul e seca no Nordeste. Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, divergem sobre a influência do fenômeno climático para ajudar São Paulo a sair da crise hídrica antes do esperado.

Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), estatisticamente não há uma relação entre o El Niño com as chuvas no Sudeste.

“Talvez a única relação que temos, nós pesquisadores, é que durante os anos do El Niño as chuvas no Sudeste ficam longe da normalidade”, afirmou. O meteorologista explica que São Paulo