O ano da indústria automobilística começou da mesma forma como 2015 terminou, com vendas de veículos em queda livre, montadoras demitindo e paradas nas linhas de produção. Fábricas que tiveram no fim de dezembro períodos de recesso mais curtos voltarão a suspender as atividades nos próximos dias, a começar pelo complexo da Fiat em Betim (MG), onde os operários terão mais 20 dias de férias coletivas a partir de quarta-feira.

Segundo a montadora, líder em vendas no mercado brasileiro, apenas uma linha não vai parar no período. A Fiat, porém, não informa qual setor seguirá ativo no parque industrial, que emprega 19 mil pessoas.

Já em fevereiro, a partir do feriado de Carnaval, também param por três semanas as fábricas da General Motors (GM) em Gravataí (RS) – casa do Onix, o carro mais vendido do país – e da Ford em Camaçari (BA), que produz, além de motores, os modelos Ka e EcoSport. No caso da Ford, a parada já tinha sido programada em novembro, quando a multinacional americana anunciou o fechamento do terceiro turno de trabalho, previsto para março. Em comum, as montadoras dizem que o objetivo das novas férias coletivas é adequar a produção a um mercado em crise.

Após o consumo de automóveis terminar 2015 no menor patamar em oito anos, os primeiros resultados do ano não são animadores. As vendas de veículos – entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus – estão, neste mês, caindo 36% em relação a janeiro do ano passado.

Não chega a ser uma surpresa o setor começar o ano com saldo negativo, já que a demanda não vinha dando sinais de reação e a base de comparação não é ruim: janeiro foi o melhor mês do ano passado, com consumidores correndo às concessionárias para aproveitar os últimos carros em estoque com descontos no IPI.

O que se mostra aquém das expectativas é o fraquíssimo movimento nas lojas. Inferior a 8 mil carros a cada dia de venda, o ritmo está abaixo da média diária do terceiro trimestre – superior a 9 mil unidades -, tida pela Anfavea como o “fundo do poço” e usada como referência pela entidade das montadoras na estimativa que indica uma queda de 7,5% dos emplacamentos em 2016.

Exceção feita às fábricas da Fiat, da GM e da Ford que vão parar nas próximas semanas, a maioria das fabricantes concedeu férias de fim de ano acima do normal em dezembro em razão não apenas da falta de demanda, mas também do excesso de veículos encalhados nos pátios das montadoras e das concessionárias. Muitas delas pararam por cinco semanas, como a Mitsubishi e as montadoras de caminhões Mercedes-Benz, Volvo e Scania.

Na volta do recesso, entretanto, as empresas continuaram com o freio de mão puxado. Em Anápolis, no interior de Goiás, a fábrica da Caoa que monta os veículos urbanos de carga e os utilitários esportivos da Hyundai vem operando em esquema de semana curta – com um dia a menos de produção – desde o retorno, no início de janeiro, das férias coletivas que pararam as linhas por um mês.

No ABC paulista, a GM prorrogou até março o afastamento de 750 operários que regressariam ao trabalho na segunda-feira, enquanto a Volkswagen suspendeu na semana passada os contratos de 1,2 mil funcionários, fazendo um rodízio com parte de um grupo de 1,8 mil trabalhadores que já voltaram ao trabalho.

A Anfavea crê que o crescimento das exportações e a substituição de carros importados por nacionais, como reflexo da desvalorização do real, permitirão à indústria terminar 2016 com produção estável, a despeito da tendência de baixa no consumo doméstico.

A previsão está descolada, contudo, da maioria dos cálculos feitos separadamente por montadoras ou consultorias, que veem uma redução das vendas mais acentuada do que a projetada pela entidade – de dois dígitos, em muitos casos -, com aprofundamento da ociosidade das fábricas, que ficou em 46% no ano passado.

Embora as montadoras já tenham eliminado quase 30 mil postos de trabalho nos últimos dois anos, o setor ainda tem que administrar um alto excesso de mão de obra. Na segunda-feira, a Ford e o sindicato dos metalúrgicos de Camaçari vão se reunir para discutir alternativas aos cerca de 2 mil funcionários do complexo baiano que estão com os empregos em risco em virtude da desativação da jornada noturna a partir de março.

O sindicato pretende propor a implementação do “layoff”, que consiste na suspensão temporária dos contratos de trabalho, com parcela do salário (R$ 1,4 mil) paga pelo governo. Ainda não há um número fechado do total de operários que aderiram ao programa de demissões voluntárias (PDV) aberto na primeira quinzena deste mês pela Ford. Mas o sindicato local avalia que as adesões foram inferiores ao excesso da força de trabalho. A entidade estima que cerca de 350 trabalhadores deixaram a Ford pelo PDV, um número não comentado pela montadora.