A economia brasileira não voltará a gerar vagas antes do segundo semestre de 2016, na avaliação do economista Edward Amadeo, sócio da Gávea Investimentos e ex-ministro do Trabalho no governo Fernando Henrique Cardoso.

Até lá, segundo ele, a taxa de desemprego deve chegar a 10%, resultado da maior busca por trabalho e da queda do nível do emprego.

Qual é o cenário para o emprego este ano?

A taxa de desemprego, que nos últimos meses tem rodado em torno de 6%, tende a subir continuamente até meados do ano que vem. Minha expectativa é de que a gente chegue a alguma coisa em torno de 10% ao longo de 2016. Isso é muita coisa. Significa uma queda do nível de emprego, ou seja, do número de pessoas ocupadas em torno de 3%. Isso realmente vai ter um impacto sobre a vida das pessoas.

Quais seriam esses impactos?

Nos últimos anos você teve um mercado de trabalho muito forte, com muito crescimento do emprego, e agora vai haver um sentimento de frustração. Não é só (o fato de) que as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho vão ter dificuldade para encontrar emprego. As pessoas que estão empregadas vão enfrentar um período de desocupação.

O que acontecerá com a renda?

Vai haver uma queda de renda agregada, porque deve ter uma queda do emprego na ordem de 1% a 2% e uma queda do salário real médio também de 1% a 2%. Então, é muito difícil precisar, mas provavelmente a renda real do trabalho vai cair alguma coisa entre 2% e 4%.

O setor de serviços acabou sustentando a geração de empregos nos últimos anos. E agora?

O setor de serviços gerou muito emprego e provavelmente, em termos absolutos, é o que vai demitir mais. Mas esse é um setor em que as empresas são menores e os contratos de trabalho talvez sejam um pouco mais flexíveis.

Quando o Brasil voltará a gerar emprego?

Não antes de 2016. E olhe lá. Eu acho que 2015 e 2016 vão ser anos muito difíceis. As medidas tomadas me parecem que vão na direção certa. Mas elas são muito tímidas e, pior do que isso, o governo não mostra a mínima convicção. As medidas de ajuste têm um lado técnico, que é fazer o que precisa fazer, mas também um lado político, que é mostrar que o governo está empenhado e convicto de que isso é bom para o País. E isso não está acontecendo.

Fonte: O Estado de S.Paulo