“A economia não precisa que trabalhemos mais do que isso”, diz responsável por articular o teste, que vai até dezembro
Preservar a saúde e o meio ambiente
Um dos impactos principais da proposta, já detectado em testes anteriores realizados pela 4 Day Week Global, é a melhoria na saúde dos trabalhadores – e, por consequência, no seu rendimento no trabalho. Mais descansados e motivados, os empregados rendem mais e adoecem menos.
“O trabalhador está mais descansado, provavelmente está mais satisfeito com relação à sua rotina de trabalho. Não está estressado, não está sobrecarregado. Isso tem impactos na saúde evidentemente, porque uma sobrecarga de trabalho muito grande tem danos à saúde do trabalhador e em vários aspectos. Isso também contribui para reduzir o número de pessoas que são forçadas a entrar em tratamento por conta de jornadas longas e excessivas”, explica a economista Marilane Teixeira, e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho Da Universidade de Campinas (Cesit/Unicamp).
“Temos 100 empresas que adotaram a semana de 4 dias e todas relatam que a produtividade aumentou, o bem estar dos trabalhadores aumentou, e sem nenhum custo extra para as empresas”, concorda Ryle. “Em muitos casos, as empresas estão alcançando maiores lucros do que antes, porque as equipes estão mais motivadas, trabalhando melhor, mais efetivos, mais descansados, mais criativos. É uma situação em que trabalhadores e empresas ganham.”
Além do bem estar dos trabalhadores, a redução da jornada tem um impacto também para o meio ambiente. Segundo Ryke, evidências de estudos da rede organizada pela 4 Day Week Global sugerem que a semana de quatro dias ajuda a reduzir emissões de carbono, por conta dos trabalhadores realizarem um dia a menos de transporte até o local de trabalho e também porque os escritórios são usados um dia a menos, economizando eletricidade.
“A semana de quatro dias tem a ver com viver vidas melhores, de forma mais sustentável, mais saudável. Isso vai nos dar a possibilidade de fazer a transição para uma sociedade de baixo carbono”, afirma. “Nos dar mais tempo livre vai nos possibilitar viver vidas mais sustentáveis. Ter o tempo para cozinhar uma refeição mais saudável e deixar de comprar comida pronta.”
Mais empregos, menos desigualdade
A proposta responde a um problema estrutural em todo o mundo, e bastante sério no Brasil: as altas taxas de desemprego, subutilização de mão de obra e informalidade. “É visível que uma parte expressiva da classe trabalhadora mundial ainda cumpre jornadas superiores a 48 horas semanais, enquanto outra proporção se encontra em situação de subemprego, com jornadas muitas vezes insuficientes, que não asseguram sequer a sobrevivência”, explica a economista Marilane Teixeira, e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho Da Universidade de Campinas (Cesit/Unicamp).
No Brasil, são 10,6 milhões de pessoas desocupadas segundo dados do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o mês de junho. Além disso, a população subutilizada (que gostaria de ter mais horas de trabalho – e mais renda) ficou em 25,4 milhões de pessoas e 4,3 milhões de pessoas se disseram desalentadas (que desistiram de procurar trabalho). Mesmo entre os ocupados, 40,1% estão na informalidade.
Para ela, o problema é estrutural e apenas ampliar o crescimento econômico não será suficiente para resolvê-lo. “A capacidade de gerar emprego para toda essas pessoas depende basicamente de se repensar a questão da distribuição da jornada de trabalho. Porque é muito pouco provável, dadas as inovações e os avanços tecnológicas, que se consiga, só por meio do crescimento econômico, recuperar a capacidade de gerar emprego para todos. Você precisa redistribuir o tempo social, e isso só é possível reduzindo a jornada como uma forma de permitir que mais pessoas possam trabalhar”, afirma.
A solução passa por tornar mais justa a distribuição social dos ganhos de produtividade alcançados nas últimas décadas, por conta de avanços tecnológicos que diminuem a necessidade de mão de obra. Marilane explica que, até aqui, esses ganhos têm sido absorvidos quase que em sua totalidade pelos patrões, sem distribuição para trabalhadores ou para o conjunto da sociedade. A redução da jornada e inclusão de mais pessoas na força de trabalho são caminhos para redistribuir essa riqueza e garantir mais justiça social, ao lado da redução dos preços e do aumento dos salários.
O piloto é uma parceria da 4 Day Week com o think tank Autonomy e pesquisadores no Boston Collegge e nas universidades de Cambridge e Oxford. Esses acadêmicos acompanham o processo com avaliações de bem estar dos trabalhadores e produtividade de todas as empresas, como parte de uma pesquisa global sobre o tema. Os resultados serão divulgados após o final do teste, em dezembro deste ano.