Representante de Comissão Europeia diz que proposta grega é ‘boa base’. Sem acerto, país pode não conseguir pagar dívida e sair da zona do euro.
O futuro da economia grega e sua permanência na zona do euro podem ser decididos nesta segunda (22), na reunião da cúpula da Eurozona, em Bruxelas. No domingo, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, apresentou por telefone as propostas do país para “tentar um acordo benéfico” para todas as partes, à chanceler alemã, Angela Merkel, ao presidente francês, François Hollande, e ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Um acordo pode garantir a liberação de recursos para a Grécia, em troca de reformas econômicas com seus credores internacionais para evitar um default no fim de junho, que poderia expulsar o país da zona do euro.
Segundo a agência AP, Martin Selmayr, chefe do gabinete do presidente da Comissão Europeia, chamou de “uma boa base para fazer progressos na cúpula da zona do euro” a proposta recebida por Jean-Claude Juncker (presidente da Comissão Europeia), Christine Lagarde (diretora do FMI) e pelo Banco Central Europeu. O chefe do gabinete usou a frase em uma mensagem no Twitter na noite de domingo, sem revelar detalhes sobre o projeto grego.
De acordo com um comunicado do gabinete de Tsipras, divulgado também na véspera da reunião de cúpula crucial da Eurozona em Bruxelas, o acordo “deve dar uma solução definitiva e não provisória” à situação financeira da Grécia, país à beira do default (suspensão de pagamentos).
Ministro quer dispensar FMI
O Fundo Monetário Internacional (FMI) não deveria continuar participando na ajuda financeira à Grécia, afirmou neste domingo o ministro de Estado grego Nikos Pappas, um dos coordenadores das negociações.
“Sou um dos que pensa que o FMI não deveria estar na Europa. Espero que encontremos uma solução sem a sua participação”, afirmou o colaborador do primeiro-ministro Alexis Tsipras ao jornal Ethnos.
Pappas considera que a Europa “não precisa” desta instituição com sede em Washington, que tem “uma agenda unilateral e em nada europeia”, e que o continente pode “seguir adiante sem ela e seu dinheiro”.
O FMI se associou em 2009 à União Europeia e ao Banco Central Europeu (BCE) para a aplicação de um plano de ajuda financeira à Grécia, país sem acesso aos mercados por sua gigantesca dívida pública.
Dívida com o FMI expira este mês
Sem um acerto, a Grécia não deve conseguir pagar os 1,6 bilhão de euros devidos ao FMI. Mesma situação dos 6,7 bilhões de euros que devem ser pagos ao BCE em julho e em agosto.
Após declarar a falta de pagamento, o banco central Europeu (BCE) limitaria o acesso da Grécia ao mecanismo de assistência aos bancos (ELA), uma das poucas fontes de liquidez do país. A instituição monetária europeia aumentou em duas ocasiões esse índice nesta semana, chegando até 87 bilhões de euros.
Isso significaria a imposição de um controle de capitais para evitar maiores sangrias nos depósitos, o que, segundo os analistas, poderia levar a um “corralito”.
Nesse caso, o governo poderia ser obrigado a emitir letras de câmbio para pagar os salários dos funcionários públicos e aposentados. E, a médio prazo, se não conseguir um acordo, criar uma nova moeda fortemente desvalorizada em relação ao euro.
Esse cenário é uma oportunidade para que a Grécia possa sair da crise, na avaliação de alguns analistas, mas também representa um grande risco. A introdução de uma moeda nacional desencadearia um círculo vicioso de inflação galopante, mercado negro e pobreza generalizada no país.
Se não for firmado um pacto nem no curto nem no médio prazo, a consequência final poderia ser a saída da Grécia do bloco econômico, um fato sem precedentes na zona do euro.
Os tratados europeus preveem a progressiva adesão à moeda única de todos os membros da UE, mas não o abandono do grupo. Por isso, analistas só acreditam que a saída do euro seja possível se o país também deixar a UE.
A incerteza fez com que nos últimos dias os saques tenham aumentado consideravelmente nos bancos gregos. Os saques entre segunda-feira passada e sexta-feira atingiram cerca de 4,2 bilhões de euros (R$ 14,8 bilhões), representando 3% dos depósitos de pessoas físicas e jurídicas mantidos nos bancos gregos no final de abril.
No entanto, o governo grego destacou que o controle de capitais não será feito, que os depósitos têm garantia e que o sistema bancário do país é forte.
Nas ruas da capital grega, sem filas nos caixas eletrônicos, a situação econômica preocupa de forma diferente a população, que está sem perspectivas e sem uma noção clara de quais seriam os benefícios de sair da zona do euro.
Pesquisas mostram que a maior parte dos gregos é favorável à permanência. O último levantamento, realizado entre os dias 11 e 17 de junho pela empresa Public Issue e publicada pelo jornal “Avgi”, mostra que 60% da população apoia o euro. Outros 36% são contra.
Parte dos gregos teme que a saída da moeda comum deixe o país sem liquidez para pagar salários e pensões, agravando a situação de quem já está abalado nesses seis anos de crise.
Outros, por outro lado, defendem levar as negociações até o limite para conseguir que as exigências dos credores não sejam impostas. Como eles já perderam tudo, não temem voltar aos tempos do drama, que consideram como beneficente a longo prazo.