Desemprego em SP sobe pelo quinto mês seguido, aponta Dieese.
Há dois meses desempregado, o ex-gerente de telecomunicação José Luis Rodrigues Souto, 48 anos, de São Caetano, que trabalhou na mesma empresa durante sete anos, não sabe o que fazer com o dinheiro que recebeu de rescisão. Além das contas da casa, que partilha com a mulher, a dívida do carro recém-comprado ainda não está nem na metade.
Em momentos de demissões em massa, recessão e crise financeira, manter-se economicamente saudável não é tarefa fácil. Principalmente para quem perdeu o emprego recentemente. Nessa situação, o ideal é fazer planejamento das despesas e da renda mensal para saber quais passos seguir.
Para o economista e professor da Universidade Mackenzie Agostinho Celso Pascalicchio, a organização das finanças é fundamental. “É importante calcular os gastos mensais e avaliar quanto se pode aplicar na poupança (no caso de ter uma rescisão) comparando o rendimento do valor aplicado com os custos do mês.” Há dois caminhos a seguir, de acordo com Pascalicchio: se o rendimento do montante for maior do que a despesa, poupe esse dinheiro. Porém, se for menor, é preciso entrar em um regime de contenção de gastos urgente, e avaliar por quantos meses consegue se manter. Para ajudar na tarefa de organização, o Diário elaborou tabela com exemplos de despesas que devem ser levadas em conta.
O apoio familiar também conta nessas situações. “Se você mora com mais pessoas, é importante explicar o que está acontecendo e pedir a ajuda de todos.”
DÍVIDAS – No caso do ex-gerente de telecomunicação, que recebeu R$ 40 mil da empresa, ele tinha como objetivo investir em um negócio próprio, mas não pode ignorar os gastos da casa, nem as parcelas do carro, que são de R$ 900.
“Não se pode deixar a dívida acumular. Se não der para bancar a prestação, negocie o veículo”, declara o economista. O atraso no pagamento das despesas pode ocasionar a retomada do bem por parte de bancos e financeiras. Casas e apartamentos devem ser vendidos só em última instância, já que o mercado imobiliário está fraco, e os negócios tendem a ser menos vantajosos para o vendedor.
Camila Francoso, 26, moradora de Mauá, perdeu o emprego há dois meses, e foi pega de surpresa. Com pagamentos em haver no banco, não sabe como agir. “Peguei um empréstimo para pagar a faculdade, mas perdi o emprego logo que me formei, e até agora não consegui nada. Minha dívida mensal é de R$ 400, mas tenho o aluguel e outras contas também.”
Para casos assim, o recomendado é ir até a agência bancária e tentar fazer uma renegociação. “Geralmente bancos são bem sensíveis à situações delicadas, como a perda de emprego. Vá até sua agência e converse com o gerente. Veja se esse compromisso caberá no orçamento. Documente as condições oferecidas, para um possível acordo no futuro.”
A reeducação financeira é o mais importante. No caso de Camila, a possibilidade de voltar a morar com os pais teve de se tornar um fato. “Não tenho mais como me manter sozinha. Nunca tive dinheiro guardado e esse é um erro que pretendo não mais cometer.”
COMPLEMENTO – O seguro-desemprego é algo que não pode ser descartado. Pascalicchio orienta que quem perdeu o emprego procure seus direitos, a fim de complementar a renda da rescisão – dependendo dos gastos mensais, se o benefício for suficiente, é possível deixar a rescisão 100% aplicada. Auxílios e bolsas também devem ser levados em conta.
Para ele, pró-atividade é um diferencial que pode ajudar a voltar ao mercado de trabalho mais rápido. “Tente-se recolocar o quanto antes. É importante ter metas e se planejar para voltar a trabalhar novamente. Atualize o currículo e não se deixe abater.”
Pensar em todos os passos com antecedência ajuda a passar pelo período desempregado sem susto. E, se a situação apertar, é indicado pensar em um plano B. “No fim do ano, diversas oportunidades surgem no mercado de trabalho. Um trabalho temporário pode ser uma saída para quem não tem encontrado muitas opções em sua área de atuação. Arrisque-se.”