O aprofundamento da crise econômica elevou de forma gradativa a procura por trabalho no país ao longo de 2015. Além dos recém-desempregados, um número cada vez maior dentre aqueles que estavam fora do mercado também passaram a buscar uma vaga.
Entre janeiro e setembro de 2014 e o mesmo período do ano passado, 1,8 milhão de trabalhadores se juntaram à força de trabalho, de acordo com números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, um avanço de 1,9% em relação a 2014, período em que o grupo havia crescido 1,1% no confronto com janeiro-setembro de 2013.
A alta foi puxada pela maior presença feminina – 1,1 milhão daquele total – e, na abertura por faixa etária, pelos trabalhadores mais velhos, com mais de 40 anos. Em períodos de retração da atividade, explicam economistas, são essas categorias, em geral com maior qualificação, que têm mais chances de se manter no emprego ou de conquistar uma vaga – por isso, são elas que retornam primeiro ao mercado para tentar recompor a renda familiar. A tendência diante do aprofundamento da recessão neste ano, contudo, é que a demanda por trabalho avance de forma disseminada.
As mulheres responderam por todo o incremento da taxa de atividade entre o trimestre encerrado em setembro de 2014 e o mesmo período de 2015, de 60,9% para 61,4%. Enquanto entre os homens esse indicador permaneceu estável em 72,4%, entre as mulheres passou de 50,4% para 51,4% daquelas com idade para trabalhar – no caso da pesquisa, com mais de 14 anos.
Afastada do mercado de trabalho durante um ano e meio, a gaúcha Ana Paula Praetzel, de 41 anos, conseguiu se recolocar há cerca de dois meses. Formada em direito, ela é gerente da AB Uniformes no shopping Iguatemi de São Paulo. A reconquista da independência financeira foi parte importante da motivação, ela conta, mas a perspectiva de elevar a renda da família em uma época “difícil” como a atual também contou. “A decisão de voltar coincidiu com o período em que chegaram os boletos de rematrícula das crianças”, ela brinca.
Em 2006, depois de atuar por 12 anos em Porto Alegre como advogada, Ana Paula se mudou para São Paulo para acompanhar o marido. Com um bebê de colo e poucos conhecidos na cidade, decidiu abrir mão da carreira para se dedicar aos filhos, mas continuou uma formação paralela com cursos oferecidos na internet. Alguns anos atrás, chegou a trabalhar em uma loja no mesmo shopping, mas acabou pedindo demissão por julgar que as crianças eram ainda muito pequenas. Foi através da indicação de uma amiga que encontrou a vaga que ocupa hoje.
O grupo das pessoas que estavam fora do mercado de trabalho porque “tinham que cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos ou de outros dependentes”, de acordo com a definição do IBGE, foi aquele que mais encolheu dentro do volume de trabalhadores inativos no país, 2,6% no acumulado do ano e 4% só de julho a setembro, somando 14,1 milhões de pessoas. Em 2015, a chamada população não economicamente ativa ainda cresceu 1%, mas puxada por categorias pouco sensíveis ao ciclo econômico, como aqueles com incapacidade física e mental (7,6%).
Segundo os dados trimestrais da Pnad Contínua, o aumento médio de 1,9% na população economicamente ativa (PEA) entre janeiro e setembro foi puxado pelas altas de 4,4% e de 7,3% nas faixas entre 40 e 59 anos e com mais de 60 anos. Todas as categorias mais jovens ainda registram variação negativa da força de trabalho no acumulado do ano.
Como consequência dessa dinâmica, a participação dos trabalhadores de 18 a 24 anos na força de trabalho caiu de 16,4% para 14,9% entre o primeiro trimestre 2012, quando começa a série do levantamento, e o terceiro trimestre do ano passado.
“As categorias que geralmente têm melhor qualificação conseguem voltar mais rapidamente ao mercado de trabalho”, avalia Igor Velecico, economista do Bradesco, justificando o aumento mais expressivo da procura por trabalho entre as faixas etárias mais elevadas. Ele ressalta, contudo, que um avanço mais vigoroso da PEA é uma consequência natural dos ciclos econômicos recessivos e que, portanto, deve ocorrer uma pressão maior vindo das demais categorias nos próximos meses.
“É natural que todos os grupos que estavam fora do mercado passem a voltar, diante da redução do rendimento familiar: as mulheres, os aposentados e os jovens”, concorda a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara. Além do impacto da recessão, que cria a necessidade de que mais membros da família contribuam com o orçamento doméstico, os mais jovens, ela diz, enfrentam ainda a redução de programas de subsídio ao ensino superior, como o Fies.