Medida foi definida após reunião do ministro da Saúde com todos os governadores, em Brasília
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, admitiu nesta quarta-feira, 9, que o Brasil “contemporizou” o combate ao mosquito Aedes aegypti “ao longo dos anos”.
Em evento em São Paulo, ele anunciou ainda que o governo federal, diante da alta dos casos de microcefalia associada ao zika vírus, vai distribuir repelentes para todas as gestantes do País – já são 1.761 registros de nascimentos de bebês com a má-formação e 19 mortes em 14 unidades da federação neste ano.
“Houve certa contemporização ao longo dos anos com o mosquito da dengue, e não podemos contemporizar com o mosquito, pois ele mata”, afirmou Castro durante encontro com integrantes do Grupo de Líderes Empresarias (Lide). Ele afirmou que faltou, de diferentes entes federativos, a iniciativa de fazer campanhas também fora de períodos de surtos – o mosquito transmite a dengue, o zika e a chikungunya.
Embora tenha admitido falha no combate ao mosquito, o ministro negou que o governo federal tenha demorado a perceber a gravidade do zika vírus. “A zika era tida como uma dengue branda, os sintomas eram mais atenuados. Infelizmente, sete meses depois, veio essa notícia terrível da microcefalia. É a primeira vez que está acontecendo na história da humanidade. Não tomamos as providências mais cedo porque não tinha nenhum lugar no mundo em que a gente pudesse ler e dizer: ‘cuidado com esse vírus zika’”, afirmou Castro.
O ministro informou que a decisão de distribuir repelentes para as gestantes foi tomada na terça durante reunião com governadores. A produção para oferta na rede pública será de responsabilidade do Laboratório Químico Farmacêutico, do Exército.
“O Ministério da Saúde vai adquirir. Estamos em contato com o laboratório do Exército, porque ele já fabrica normalmente esses repelentes para as suas tropas, e vamos estabelecer uma parceria para produzir repelente em volume suficiente para atender as grávidas”, afirmou Castro. Por ano, o Brasil tem, em média, 2,9 milhões de nascimentos.
Castro não informou quando a distribuição será iniciada, mas disse que o laboratório do Exército trabalhará em sua capacidade máxima de produção para iniciar a oferta dos repelentes o mais rápido possível.
Resistência. A distribuição de repelentes já era cogitada pelo governo federal há algumas semanas, mas enfrentava resistência de técnicos do ministério. Para os críticos da proposta, a medida poderia enfraquecer a principal mensagem do governo: combater os criadouros do mosquito.
“O ideal é continuar reforçando a questão do combate aos focos do mosquito, mas, diante da situação de emergência por causa da microcefalia, acho que podemos somar as duas medidas”, avaliou Celso Granato, professor de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para o especialista, após cerca de 30 anos de disseminação do mosquito, fica claro que os órgãos governamentais falharam na estratégia de combate. “Parece que, ao longo dos últimos anos, as pessoas foram se acostumando com a dengue. Não sei se foi culpa do governo federal, dos Estados ou dos municípios, mas não combatemos o mosquito como deveríamos e agora temos uma tragédia. Só que também é uma tragédia morrerem quase mil pessoas por dengue no ano”, afirmou.
São Paulo. A estratégia de combater os criadouros em São Paulo será reforçada, segundo o governador Geraldo Alckmin (PSDB), com a renovação por mais seis meses do contrato de 460 funcionários da Superintendência do Centro de Controle de Endemias (Sucen), cujo vínculo com o Estado foi encerrado no início deste mês.
A Secretaria Estadual da Saúde já teria recebido parecer favorável da Controladoria-Geral do Estado (CGE), permitindo renovar o vínculo. “Serão os mesmos funcionários. Nós conseguimos um parecer dando uma excepcionalidade em razão da questão da dengue”, afirmou Alckmin. Além disso, até mil policiais militares vão ajudar no combate ao mosquito.
SP pede às cidades que antecipem as notificações de microcefalia
O secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, disse que a pasta vai pedir aos municípios paulistas que antecipem a notificação de casos suspeitos de microcefalia associados ao zika vírus em dois dias, para que a atualização seja feita de forma mais rápida ao Ministério da Saúde.
A declaração foi dada após o Estado revelar que a pasta estadual não estava notificando os casos suspeitos de má-formação ao governo federal mesmo com o relato de prefeituras de pelo menos 18 registros suspeitos em cinco cidades. “O Estado recebe as notificações até terça-feira e acaba divulgando na quarta-feira. Para alinhar com o Ministério da Saúde, nós vamos inverter e ter as notificações dos municípios até segunda-feira para comunicar o ministério até terça (dia em que sai o boletim do governo federal)”, disse Uip.
Desde o início do ano, o Estado de São Paulo registrou 54 casos de microcefalia, mas a secretaria não informou quantos desses podem estar associados ao zika e quantos foram causados por outros problemas, como infecção por rubéola, toxoplasmose ou abuso de álcool e drogas.