Entre os primeiros 11 meses de 2014 e de 2015, os emplacamentos de autoveículos diminuíram 25,2% – e, se considerado apenas o mês de novembro, o recuo foi de 33,8%, para 195,2 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Desde o início dos anos 1980 o ritmo de queda das vendas de veículos não era tão intenso como o deste ano. Por número de unidades emplacadas, os indicadores estão retroagindo a 2008. Apesar do leve aumento de vendas de 1,6% no mês passado, este foi o pior novembro desde o início da crise global, que ocorreu há oito anos.
Não só o comportamento atual é ruim: as previsões têm sido sucessivamente revisadas para baixo. As vendas em 2015 devem totalizar 2,5 milhões de unidades, segundo se prognostica, mas as perspectivas para o próximo ano são ainda piores, com declínio para uma faixa entre 2 milhões e 2,2 milhões de veículos, segundo estimativas da GM e da Ford citadas pelo jornal Valor.
Além da recessão econômica, da inflação que reduz o poder aquisitivo dos consumidores, do temor de perda do emprego e dos juros altos, políticas oficiais contribuíram para aumentar as incertezas.
É o caso das vendas de caminhões financiadas pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI), operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O PSI oferece juros subsidiados aos compradores e se destina à renovação das frotas. Em fins de outubro noticiou-se que o PSI seria encerrado, levando os consumidores a correr para se habilitar ao crédito. Dias depois, o governo voltou atrás, mas as vendas de caminhões em novembro caíram 61,1% em relação a novembro de 2014, pior resultado em 13 anos.
Entre as consequências do mau comportamento das vendas de veículos leves e pesados (como caminhões e ônibus) e até de motos está o corte de empregos, a criação de regimes de lay-off ou a entrada das empresas no Programa de Preservação do Emprego (PPE), para evitar as demissões à custa de diminuição do salário. Ou o fechamento parcial ou total de unidades de produção.
Em resumo, a diminuição da produção e das vendas afeta não apenas montadoras, mas também os empregados, os governos (que arrecadam menos tributos), além do comércio e dos prestadores de serviços aos trabalhadores. Não só 2015 será um ano perdido para o setor; é provável que em 2016 a dose se repita.