O endividamento das famílias aumentou, como proporção da renda anual, de 46,2%, em março, para 46,3%, em abril, segundo o Banco Central (BC). É o maior patamar em dez anos e um complicador para o ritmo da atividade econômica, pois inibe a demanda dos consumidores.

Há duas grandes classes de dívidas: uma referente às compras financiadas de bens de consumo – que responde por 27,6% do endividamento – e outra relativa à aquisição da moradia, cujo peso é de 18,7%.

O BC leva em conta todos os financiamentos com o sistema financeiro, inclusive as dívidas na modalidade rotativa dos cartões de crédito, em que os juros são maiores. Mas não estão incluídos crediários em lojas nem dívidas atrasadas com concessionárias de serviços públicos.

Nos últimos anos, as operações imobiliárias foram as que mais provocaram o aumento das dívidas. Entre 2005 e 2015, o número de imóveis financiados com recursos das cadernetas de poupança aumentou quase nove vezes, de 60 mil para mais de meio milhão de unidades por ano, enquanto o volume de empréstimos cresceu 23 vezes, de R$ 4,8 bilhões para R$ 111,7 bilhões. O saldo dessas operações é de R$ 460 bilhões, segundo reportagem do Estado de terça-feira.

O endividamento com a aquisição de imóvel é visto como mais pesado, mas tem como contrapartida o fato de serem despesas de investimento (o imóvel passa a fazer parte do patrimônio do devedor).

Por ora, o endividamento não pode ser considerado exagerado, mas os compromissos se tornam mais difíceis de cumprir à medida que se aprofunda a recessão econômica. Com o desemprego mais alto e o avanço dos juros, não fica afastado o risco de uma crise de inadimplência, avaliam economistas.

Os dados mais recentes sobre a evolução do consumo mostram que as famílias têm adotado comportamento prudencial, mesmo à custa da diminuição do padrão de vida. A combinação de mais inflação com juros elevados reduz a parcela da renda disponível para o consumo e para o investimento. Mas, nos casos de perda de emprego, o risco de inadimplência aumenta muito.

Os últimos levantamentos mostram um crescimento dos atrasos, mas estes parecem ser maiores em itens como as contas de energia elétrica e telecomunicações. No crédito imobiliário, ao contrário, os níveis de inadimplência são baixíssimos (1,5%) nas operações com alienação fiduciária.

Fonte: O Estado de S.Paulo