Palácio do Planalto tenta não interferir na disputa para não atrapalhar a tramitação do texto,
previsto para ser retomado no Congresso em fevereiro

A batalha para aprovar a reforma da Previdência é de todos os integrantes e aliados do governo, mas a definição de quem é o verdadeiro pai da mudança é uma disputa acirrada entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos contam com a aprovação da matéria este ano para melhorar a visão do mercado sobre eles, de olho em apoio para uma eventual candidatura à presidência da República.

  
Possíveis presidenciáveis, Maia e Meirelles disputam, com o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o mesmo eleitorado: de centro-direta. Enquanto o tucano aposta em uma agenda voltada para emprego e renda, com um tom mais social, os outros dois precisam decidir quem fica com a pauta reformista, defendida por ambos. Levar à disputa eleitoral a mesma pauta, em especial uma de peso como a reforma da Previdência, dividiria os votos e pulverizaria a eleição, cenário que fortaleceria os outros candidatos e minaria as chances dos candidatos de centro-direita.
 
“Maia e Meirelles são iguais, têm a mesma agenda, que é a das reformas. Ninguém vai abrir mão do tema, mas é bom lembrar que filho de dois pais pode não ser filho de ninguém”, brinca o coordenador do Núcleo de Análise Política (NAP) da Prospectiva Macropolítica, Thiago Vidal.

 
Na escolha entre um e outro, é difícil avaliar quem tem mais chances de emplacar uma candidatura com esse mote caso a reforma passe no Congresso Nacional. Na opinião do diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, Meirelles tem um trânsito melhor que Maia com o mercado financeiro, “o problema é que ele não tem um partido que dê a ele o mesmo apoio que teria o presidente da Câmara”. Ele considera que seria menos prejudicial para Maia do que para o ministro se a reforma não passasse, porque o deputado continuaria com forte apoio no partido e bom trânsito entre os parlamentares.
 
O Planalto garante que não quer se envolver na briga cada vez mais explícita entre Maia e Meirelles. Mas acaba sendo obrigado a intervir para aparar as arestas, como teve de fazer ontem o  residente Michel Temer, ao chamar Maia para uma conversa para tratar da Previdência. A grande preocupação do governo é de que os atritos contaminem os debates sobre a mudança nas regras da aposentadoria.
 
Temer está buscando se preservar para não se meter diretamente na disputa entre os dois, embora aliados o tenham alertado há tempos. Maia e Meirelles estão interessados em se cacifar, a partir da aprovação da reforma. O presidente da Câmara, por apresentar-se  como o articulador político para a votação da reforma. O chefe da Fazenda, por ser o condutor da retomada do crescimento e disposto a encerrar a passagem pela pasta aprovando uma matéria que desafogará as contas públicas pelos próximos anos.
 

Embate

 O mais recente embate entre os dois deu-se em torno da chamada regra de ouro, dispositivo constitucional que impede que o
governo faça dívidas para pagar despesas correntes. Na semana passada, o democrata afirmou que essa regra deveria ser alterada
para evitar a explosão das contas públicas e manter o nível de gastos em 2019. “Não precisa mudar a regra, mas suspender por algum tempo algumas restrições”, afirmou. Ao ser questionado sobre quais restrições, e por qual período, ele jogou a responsabilidade
para o Executivo. “Esta é uma decisão do governo”, esquivou-se, destacando que “os dados estão claros”.
 
Meirelles, no entanto, se posicionou enfaticamente contrário à ideia. “Existe, de fato, uma proposta de suspender a regra de ouro
por alguns anos. Eu não gosto dessa proposta, não aprovo. Eu acho que nós precisamos criar mecanismos que sejam autorreguláveis”,
disse o ministro da Fazenda, que acabou vencendo a queda de braço. Mas a disputa política segue desigual.
 
Maia alinhavou uma aliança com o PP, de Ciro Nogueira (PI).Indicou Alexandre Baldy para o Ministério das Cidades na vaga pepista.  Amigo pessoal do novo ministro, acertou com ele a saída do Podemos e a filiação ao PP, algo que ainda não aconteceu. O presidente da Câmara também é muito próximo da Força Sindical. Como mostrou o Correio na sexta-feira, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP) deixou o braço sindical que comanda aberto para apoiar uma candidatura do democrata ao Planalto.
 
Um aliado de Temer adverte que é preciso ligar o alerta à disputa entre os presidenciáveis. “Temos de ficar atentos, porque Maia tem outras vantagens sobre os concorrentes. A começar pelo fato de não precisar se desincompatibilizar se quiser ser candidato. Além disso, ele está em uma posição estratégica que lhe dá liberdade para movimentar as peças e alterar o panorama do jogo”, explicou.
 
Por isso o cuidado do presidente. Temer ainda mantém o discurso de que, no auge da crise política, quando foi obrigado a derrotar, na Câmara, duas denúncias que pesavam contra ele, o democrata foi essencial para manter o governo vivo. Mas reconhece que o aliado está ganhando voo próprio. Em entrevista ao O Globo, por exemplo, Maia afirmou que, “se é cogitado (para uma candidatura presidencial), é porque há uma avenida aberta”, disse.
 
O chefe da Fazenda, por outro lado, está sendo acompanhado de perto pelo marqueteiro do PMDB, Elsinho Mouco. Meirelles foi  orientado nas gravações para a propaganda do PSD — da qual foi a principal estrela — e nas inserções partidárias, nas quais defende que o Brasil retomou o caminho do crescimento e que não aceita
mais saídas populistas.