Sindicalistas dizem gostar da ideia de um encontro entre Lula e Fernando Henrique, e pedem mais articulação política. Ex-presidente defende “encontrão” de Dilma com movimentos sociais
O ex-presidente Luiz Inácio Inácio Lula da Silva recebeu no dia 29, no instituto que leva o seu nome, três líderes da Força Sindical para discutir a crise e o “pós-crise”. Ele havia feito o mesmo, semanas atrás, com representantes da CUT. A diferença é que, desta vez, a conversa foi com uma central que tem dirigentes abertamente favoráveis à saída de Dilma Rousseff da Presidência da República. Mas o encontro, de aproximadamente 40 minutos, tratou mais de alternativas e tentativas de diálogo para reduzir o clima de hostilidade na política. Segundo relatos, Lula quer que os trabalhadores sejam “protagonistas” da retomada do crescimento econômico e defende um “encontrão” de Dilma com os movimentos sociais. A reunião foi feita a pedido da Força Sindical, lembra seu presidente, Miguel Torres, que foi acompanhado do secretário-geral, João Carlos Gonçalves, o Juruna, e do 1º secretário, Sérgio Luiz Leite, o Serginho. A central também já solicitou uma audiência com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula. Segundo Miguel, a ideia é “conversar com pessoas e pensar mais à frente”. “Na crise, todo mundo fica na retaguarda. Uma hora a crise vai terminar. A gente precisa estar preparado para recuperar o que perdeu”, afirma o presidente da Força, que vê o governo “batendo cabeça” na economia e sem perspectiva de recuperação para a indústria. Sobre a reunião com Lula, ele resume com uma frase bem-humorada: “Ele defendeu o governo, nós criticamos”. O dirigente observa que, embora veja isso como possibilidade no cenário político, a central não trabalha com a hipótese de impeachment da presidenta. “Tem dirigente que defende o impeachment, a renúncia. A Força não trabalha com isso. Também não sei se seria melhor (se acontecesse).” Um dos principais defensores do afastamento de Dilma é o presidente licenciado da Força, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também presidente do Solidariedade.
Miguel defende a procura de um entendimento com vários setores da sociedade, incluindo os empresários. Mas vê dificuldades na aproximação com Dilma. “Temos sempre esperanças. Mas a minha opinião é de que ela está tendo oportunidade uma atrás da outra para retomar o diálogo e não está aproveitando”, afirma. O sindicalista dá como exemplo o recém-criado Programa de Proteção ao Emprego (PPE) – avisado em cima da hora sobre o lançamento, disse que não pôde comparecer.
Ele também mostra ceticismo em relação à economia – e emenda criticando o novo aumento de juros, anunciado ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “Não tem uma medida que sinalize para a retomada. Quem vai investir com uma taxa a mais de 14%?”
Viagens pelo país
No encontro, Lula reafirmou que pretende estabelecer uma agenda de viagens pelo Brasil, no segundo semestre, para ouvir e também falar do que se avançou no país especialmente nos 12 últimos anos. De acordo com Serginho, o ex-presidente reconheceu a situação difícil, mas discordou do cenário de “terra arrasada” descrito por alguns.
Segundo ele, Lula tentou jogar a conversa “para cima”, tentando fugir do clima de “muro de lamentações” que se instalou no instituto, conforme imagem do sindicalista. “Ele quer saber o que vamos propor ao governo, quer os trabalhadores como protagonistas de uma reação. Para continuar brigando, mas olhando para a frente.” Serginho lembrou também que aos sindicalistas agrada a ideia de um encontro de Lula com Fernando Henrique. “Independentemente da crise, achamos que não interessa para ninguém o ‘quanto pior, melhor'”, diz. Ele acredita que, devido à pluralidade partidária, a Força “tem todas as condições para fazer esse diálogo”, pensando no Brasil e no futuro, questões mais importantes do que a “raivinha” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ou que o impeachment. “É preciso fazer o povo voltar a acreditar no Brasil.” Ao mesmo tempo, o posicionamento crítico em relação ao governo permanece. “Não abrimos mão de discutir a nossa pauta e mostrar nosso descontentamento com o ajuste, que caiu no colo do trabalhador”, afirma Serginho. A Operação Lava Jato entrou na conversa, e Lula reafirmou declarações públicas. “Ele falou claramente: a corrupção tem de ser investigada, mas a Dilma tem de governar”, lembra o 1º secretário da Força. Serginho também aponta inabilidade e falta de interlocução no Planalto, o que leva a aprofundamento do desgaste, no caso de vetos a temas de interesse social, como no caso das aposentadorias. “Por que o governo tem de ser o carrasco e o Congresso, o bonzinho? Isso vai acontecer em outros temas, se o governo não abrir negociação com o movimento sindical”, avalia.
Ele observa ainda que esse dilema entre ministros da área social e equipe econômica já aconteceu durante o governo anterior. “Me parece que a grande diferença é que o Lula tinha liderança política para fazer a opção. Ela (Dilma) tem de sair da corda. Para governar, ela tem de conversar com as pessoas, não tem jeito.” Serginho disse ainda que o ex-presidente é favorável a uma grande reunião, ou um “encontrão” de Dilma com os movimentos sociais. “Parece que tem uma barreira no Palácio do Planalto”, diz o sindicalista.