Ao interromper atividade de empresas sob investigação, Lava Jato tirou R$ 142 bilhões da economia do país: “era possível ter mantido os projetos em andamento”, afirma advogado
Os prejuízos econômicos ao Brasil causados pela forma com que investigadores e juízes vem conduzindo a Lava Jato são pouco abordados no debate eleitoral, embora estejam bastante documentados. De acordo com estudo recente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a Lava Jato, por ter interrompido as atividades de empresas sob investigação e ter paralisado obras e projetos que já estavam em andamento, surrupiou mais de R$ 142 bilhões da economia. Valores que deixaram de circular e que superam em três vezes os R$ 12 bilhões que o Ministério Público calcula terem sido desviados por corrupção – dos quais apenas R$ 3 bilhões recuperados, apesar do estardalhaço da mídia.
Não precisava ter sido assim. Era possível manter as investigações, punir responsáveis e ao mesmo tempo ter mantido os projetos em andamento, sem prejuízo da Justiça e do combate à corrupção. Essa é a opinião de especialistas, como o advogado Walfrido Warde Jr., consultor para o mercado de capitais. Warde levou ao Congresso Nacional, inclusive, proposta jurídica que poderia ter conciliado investigação e manutenção dos investimentos produtivos. Ofuscada pela ênfase persecutória da Lava Jato, a proposta, elaborada em 2015, não foi adiante.
Da Alemanha vêm dois exemplos bastante significativos de como a luta contra a corrupção pode conviver com a preservação de patrimônios como empresas estratégicas e as vagas de emprego para o povo.
A Volkswagen, após ter sido atingida em 2015 pelo dieselgate, escândalo em que a justiça estadunidense denunciou fraudes no controle de emissão de poluentes em motores produzidos pela empresa alemã, chegou, dois anos depois, ao seu maior lucro da história.
“O poder público, o governo e a sociedade alemã foram capazes de compreender que era preciso manter as atividades de uma empresa que emprega, no mundo todo, 650 mil trabalhadores e trabalhadoras, combinando combate à corrupção com justiça social”, comenta João Cayres, secretário-geral da CUT-SP e metalúrgico.
Cayres presenciou discurso em que a premiê Angela Merkel prometeu defender os empregos dos alemães e não ceder a pressões de concorrentes internacionais que, mesmo sob o argumento da decência, da moralidade e do respeito ao meio ambiente, queriam no fundo destruir a montadora. “Ela disse claramente que os trabalhadores não podiam pagar pelo erro de um grupo de executivos”, lembra o dirigente sindical, que participou do congresso do IG Metall – o sindicato dos metalúrgicos da Alemanha, com mais de 2 milhões de filiados -, em outubro de 2015, quando Merkel discursou.
Além do lucro recorde registrado em 2017, a Volkswagen ultrapassou a Toyota na lista de maior vendedora de automóveis do mundo. Sem prejuízo da punição criminal dos responsáveis pelas fraudes no controle de emissão de poluentes nem da cobrança de pesadas multas sobre a empresa.
Uma década antes, outra gigante alemã, Siemens, também foi apanhada em mega escândalo de corrupção, com braços que se estendiam internacionalmente – e que chegou até o metrô tucano de São Paulo. Executivos presos, centenas de funcionários que admitiram participação nos crimes e milhões de euros em multas depois, a Siemens alterou padrões e permanece viva. E, mais importante, a quebra evitada preservou empregos e a cadeia produtiva daquele país.
Cayres lembra ainda que empresas estrangeiras que atuam no Brasil e que foram citadas na Lava Jato não foram incomodadas pelos investigadores, mantendo suas operações normalmente, fato noticiado inclusive pela imprensa comercial. Diferença que destaca o caráter antinacionalista da turma de Sérgio Moro, na opinião do dirigente.
Portanto, para se trocar a água suja que está na banheira, não é necessário jogar fora também o bebê.
por Isaías Dalle/FPA