No 8º dia após deflagração do conflito e com uma nova rodada de negociações na agenda, a ofensiva russa segue em cidades ucranianas. Nas últimas horas, a cidade de Kherson, no sul do país, foi tomada pelo Exército russo. Além disso, a capital Kiev e a cidade de Kharkiv continuam sob bombardeio.  

Esses movimentos ocorreram horas antes de uma nova tentativa diplomática de se chegar a um cessar-fogo na Ucrânia. Uma reunião entre representantes dos países deve ocorrer ainda nesta quinta-feira (3), de acordo com os governos russo e ucraniano.

Bombardeio na capital Kiev

Kiev voltou a ser alvo de bombardeios russos nas primeiras horas desta quinta-feira (3), de acordo com veículos internacionais. A capital ucraniana segue sofrendo com um cerco imposto pelas tropas russas a partir de cidades do sul. A cidade, onde está o presidente Volodymyr Zelenskyy, é ameaçada desde terça (1º) com um comboio militar da Rússia em seu entorno.

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, disse que a situação na capital é “difícil, mas sob controle”, segundo correspondentes que estão no local. Klitschko afirmou que não houve baixas durante a noite e que as fortes explosões noturnas eram mísseis russos. No entanto, segundo ele, os ataques teriam sido combatidos pela defesa aérea ucraniana.

 

Ucrânia admite perda de Kherson

Na noite de quarta-feira (2), autoridades ucranianas confirmaram a tomada pelo exército russo de Kherson, cidade portuária de 290 mil habitantes no sul do país. “Os invasores estão em todas as partes da cidade e são muito perigosos”, declarou o chefe da administração regional, Guennady Lakhuta, no Telegram.

 

O prefeito de Kherson, Igor Kolykhayev, afirmou ter conversado com os russos em um edifício da administração municipal. “Não tínhamos armas e não fomos agressivos”, afirmou.

A captura de Kherson é importante para o estabelecimento de uma rota naval para os militares russos. Há relatos feitos por correspondentes internacionais de que a cidade de Mariupol, no sul do país, também está cercada por tropas russas.

 

Rússia acredita em cessar-fogo

O governo ucraniano afirmou, nesta quarta, que a delegação de seu país está a caminho da fronteira com Belarus e Polônia, onde devem participar de uma segunda rodada de negociações com a Rússia. Um dos principais assessores do governo russo também confirmou a reunião.

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, “as negociações entre os representantes da Rússia e da Ucrânia terão lugar hoje [quinta-feira]. Uma solução será encontrada, não tenho dúvidas. Mas, apesar das negociações, continuaremos nossa operação militar. Ucranianos recebem instruções de Washington e preparam provocações”.

“Os Estados Unidos subjugaram a Europa, como Napoleão ou Hitler fizeram uma vez. O Ocidente não ouve a Rússia, mas a histeria passará. Cabe aos povos que vivem lá decidir o futuro da Ucrânia. Qualquer vida humana não tem preço, mas qualquer ação militar envolve baixas”, declarou Lavrov.

 

Resolução anti-Rússia na ONU

O Fórum da Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, na quarta (2), uma resolução contra a ofensiva militar russa na Ucrânia. Foram 141 votos a favor, 5 contra e 35 abstenções. O Brasil se alinhou à maioria e também votou a favor. Leia a íntegra do documento (em inglês).

Os países que votaram contra o texto foram Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia. A China se absteve. A resolução deixou de “condenar”, como estava prevista versão inicial do texto, para “deplorar nos mais fortes termos” o que chama de “agressão” russa.

A Rússia contestou o teor da resolução e disse que sua invasão ocorre em “legítima defesa”. “Não foi a Rússia que iniciou esta guerra. Essas operações militares foram iniciadas pela Ucrânia contra os habitantes de Donbass (a região separatista no leste do país) e contra todos aqueles que não concordavam com ela”, afirmou o embaixador russo Vassily Nebenzia.

O Brasil votou a favor da resolução, mas fez ressalvas. “A resolução é um apelo à paz da comunidade internacional. Mas a paz exige mais do que o silêncio das armas e a retirada das tropas. O caminho para a paz requer um trabalho abrangente sobre as preocupações de segurança das partes”, disse o embaixador brasileiro Ronaldo Costa Filho.

A Corte Internacional de Justiça realizará na próxima semana duas audiências públicas para discutir um pedido de medidas provisórias da Ucrânia contra o governo da Rússia. As sessões foram agendadas para 2ª e 3ª feira (7 e 8 de março).

Também nesta quarta, um procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) disse que vai “prosseguir imediatamente” com uma investigação sobre supostos crimes de guerra na Ucrânia desde 2013. A apuração terá depois que 39 países solicitaram ao TPI que tomasse providências sobre a ofensiva militar russa.

 

Entenda o conflito

Desde o final de 2021, tropas russas passaram a se concentrar nas proximidades da Ucrânia e o Ocidente enviou armas para os ucranianos. O conflito tem como pano de fundo os limites da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar composta por membros alinhados aos EUA, em direção à fronteira russa e o mercado de energia na Europa. 

 

Outro elemento central é o fracasso dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015 como uma tentativa de construir um cessar-fogo para a guerra civil na Ucrânia. A ferramenta diplomática previa condições de autonomia para áreas separaristas de Donetsk e Lugansk e a retirada de armas da região em que tropas ucranianas enfrentavam os rebeldes. 

O governo de Kiev se recusava a cumprir a parte política prevista pelos acordos, já que isso poderia causar uma fratura em sua soberania.

A Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro sob a justificativa de “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho. Desde então, União Europeia e Estados Unidos anunciaram sanções como resposta e também fornecem armas aos ucranianos. 

Um milhão de refugiados já tiveram que deixar a Ucrânia em decorrência do conflito, afirma Organização das Nações Unidas (ONU). (BF)