Transação marca um ponto transformador para a empresa, que voltará seu foco estratégico para o mercado farmacêutico
A gigante francesa Coty anunciou na segunda-feira a compra da divisão de cosméticos da brasileira Hypermarcas por R$ 3,8 bilhões. Com o negócio, a Coty, dona de uma faturamento de US$ 4,4 bilhões, estreia na produção de cosméticos no mercado brasileiro, o segundo maior do mundo. A Hypermarcas, por sua vez, zera a dívida líquida que atingiu R$ 3,3 bilhões no terceiro trimestre, e ganha fôlego para se concentrar na fabricação de remédios.O negócio inclui uma fábrica de cosméticos localizada no município de Senador Canedo, em Goiás, que emprega 2,5 mil trabalhadores, além das marcas Bozzano, Monange, Paixão, Risqué, Cenoura & Bronze, entre outras do setor de beleza.
A Coty pretende assumir a divisão de cosméticos da Hypermarcas no fim do segundo trimestre de 2016, quando deve desembolsar R$ 3,8 bilhões em dinheiro. Isso vai ocorrer após a transação ser submetida aos órgãos de defesa da concorrência no País e a procedimentos para tornar esse segmento operacionalmente independente do restante da companhia.
Até essa aquisição, a atuação da Coty no mercado brasileiro era modesta. Em maio do ano passado, a empresa assinou um acordo com a Avon para ter seus produtos distribuídos no País. Há quatro meses, a Coty deu mais um passo para estender sua presença global, com a compra, por US$ 12,5 bilhões, das marcas de beleza da P&G.
Para a Hypermarcas, a venda representa um alívio. “Esse negócio faz parte da nossa estratégia de focar no setor farmacêutico e melhorar a sua estrutura de capital”, afirma o presidente da empresa, Claudio Bergamo.
Após o anúncio do negócio, a agência de classificação de risco Fitch colocou os ratings em moeda estrangeira e em moeda local da Hypermarcas em observação para possível elevação. Segundo a agência, a venda da área de fabricação e comercialização de cosméticos da Hypermarcas para a Coty vai melhorar a estrutura de capital da empresa.
Dimensão. O negócio anunciado na segunda-feira, que se aproxima de US$ 1 bilhão, está entre os maiores fechados neste ano, segundo ranking da consultoria PricewaterhouseCoopers. Segundo o sócio líder de fusões e aquisições da consultoria, Rogério Gollo, as cifras envolvidas são comparáveis às de transações ocorridas no setor de energia, por exemplo. Ele observa que a desvalorização do real em relação ao dólar, na casa de 50% este ano, ajudou. “Uma desvalorização desse tamanho é a chance da década para um grande player global entrar no País”, diz ele, antevendo que outras transações estão a caminho.
Para Gollo, a empresa teve de escolher e decidiu sair de um segmento, o de cosméticos, que cresceu muito nos últimos anos e que agora deu uma parada por causa da recessão. “A empresa optou pelo segmento farmacêutico por dois motivos: trata-se de um setor cinco vezes maior do que o de beleza e com margens de rentabilidade muito superiores.”
Bergamo ressalta que o setor farmacêutico é muito resiliente. “São produtos de primeira necessidade e que sentem muito menos a crise.” Ele acrescenta que, com a tendência de envelhecimento da população brasileira, a maior necessidade de medicamentos deve pesar mais do que crise. Por isso, a demanda por esses itens é crescente.
No ano passado, a receita total da Hypermarcas atingiu R$ 4,6 bilhões e a divisão de cosméticos respondeu R$ 977,5 milhões. A maior parte dos R$ 3,6 bilhões restantes é faturamento obtido com a produção de medicamentos, entre os quais estão alguns ícones, como Benegrip, Engov, Epocler. Bergamo diz que a companhia lidera o mercado de medicamentos sem prescrição médica, com 14% das vendas, e está na vice-liderança no segmento de dermocosméticos.
Apesar da venda da divisão de cosméticos, a Hypermarcas continua interessada em se desfazer do segmento descartáveis, que inclui fraldas infantis, de marcas tradicionais como Pom Pom, Cremer Disney e Sapeka. “Esse processo ainda está em andamento e não temos nada a comentar. Estamos avaliando as alternativas”, diz Bergamo.