Empresa já é vice-líder de mercado e deixou para trás a francesa Sanofi; uma de suas vantagens seria o custo mais baixo de produção
Criada em 2001 para ser uma gigante do consumo, a Hypermarcas, do empresário goiano João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido como Júnior, começou a mudar de rota em 2009, quando a empresa passou a fazer pesadas apostas no segmento farmacêutico, que registrou crescimento acima de dois dígitos até o ano passado e hoje responde por 55% da receita do grupo.
Com um movimento agressivo de aquisições, a Hypermarcas começou a incomodar os concorrentes, especialmente no segmento de genéricos. Hoje, a divisão farmacêutica já é a segunda maior do mercado brasileiro, atrás da EMS. Em agosto, sua participação de mercado ficou em 12,81%, quase encostada na líder, que encerrou o mesmo mês com fatia de 13,17%, de acordo com a consultoria IMS Health, especializada no setor farmacêutico. A companhia tirou em 2013 a vice-liderança da francesa Sanofi, dona da Medley, que tem hoje 8,69% do mercado brasileiro.
A empresa quer a liderança de mercado. Para chegar lá, alguns fatores pesam a seu favor, segundo o analista Ricardo Boiati, do Bradesco BBI. Um deles é seu custo de produção de genéricos, que, em função de um parque fabril moderno, chega a ser 30% inferior ao dos principais concorrentes. Além disso, Boiati afirma que a companhia fez investimentos em marketing na marca Neo Química, tentando diferenciar o laboratório de medicamentos genéricos, que são considerados uma espécie de commodity no setor.
“O grupo quer se concentrar em medicamentos e ser uma companhia como as globais Bayer e a própria Sanofi, por exemplo, que possuem um amplo portfólio de remédios e produtos isentos de prescrição”, disse uma fonte de mercado.
Segundo o analista de varejo Luiz Cesta, da Votorantim Corretora, as perspectivas para o setor de medicamentos são boas no longo prazo, pois a tendência é de envelhecimento da população brasileira. Pensando nisso, a Hypermarcas quer ganhar musculatura e ampliar seus domínios, em uma nova onda de consolidação no futuro. Chegou a sondar o laboratório nacional Aché, das famílias Depieri, Siaulys e Dellape Baptista, que decidiram colocar o negócio à venda há quase três anos. O Aché também negociou com multinacionais, mas o processo não andou. Fontes dizem que a Hypermarcas ainda teria interesse no Aché.
Agressividade. A construção do império farmacêutico da Hypermarcas se deu, a exemplo do que ocorreu em bens de consumo, por aquisições. Entre 2009 e 2010, a empresa arrebatou a Neo Química, de Goiás, e a Mantecorp, da família Mantegazza, tirando concorrentes internacionais de peso do páreo.
Esses dois negócios, aliás, ajudaram a inflacionar o preços dos ativos farmacêuticos no mercado. Com o crescimento da divisão de medicamentos, a empresa ganhou a atenção do mercado financeiro.
Mesmo que a estratégia de separar o negócio de bens de consumo, operação bem vista pelo mercado, não tenha êxito, a Hypermarcas como um todo é considerada um bom ativo. Na terça-feira, a agência de classificação de risco Fitch manteve a nota da empresa em “BB+”, com perspectiva positiva. Vários bancos recomendam a compra da ação. “O setor de farma vai bem e, em consumo, a empresa tem boa performance”, afirma Caio Moreira, analista do banco Fator.
Para lembrar: grupo ficou mais enxuto
A Hypermarcas começou a colocar em prática em 2011, dez anos após sua criação, um amplo plano de reestruturação de seus negócios. Conhecida no mercado por seu movimento agressivo de aquisições, a companhia teve de rever sua estratégia, que incluiu a venda de vários ativos. O mercado começou a questionar a falta de foco do grupo, que tinha um leque de negócios, desde higiene e beleza até limpeza e alimentos. Em 2011, a companhia vendeu seus ativos de alimentos e limpeza, justamente as que deram origem ao negócio. O grupo desfez-se de um pacote de importantes marcas, como Assolan, Perfex, Etti e Salsaretti, que somou R$ 445 milhões.
Além disso, a Hypermarcas também concentrou a maior parte de suas fábricas em Goiás. Com investimentos de R$ 500 milhões, construiu no Estado complexos industriais e centros de distribuição para unificar a produção de seus dois negócios: remédios e consumo. Em Anápolis, a sede da Neo Química tem a maior capacidade de fabricação de remédios da América Latina – o “bunker de medicamentos”, como a estrutura é conhecida internamente, permitiu a desativação de fábricas do setor que antes estavam espalhadas por vários Estados.
A divisão de bens de consumo fica em Goiânia e concentra unidades produtivas batizadas de “projeto Matrix”. Só está fora do Matrix a divisão de fraldas descartáveis, que fica em Aparecida de Goiânia e está à venda.