Caixa dará crédito com juros mais baixos a montadoras e outros setores em dificuldade que não cortarem vagas.

Medida se segue a apoio anunciado por empresários e retoma práticas criticadas por ministro da Fazenda

Diante do risco de dois anos seguidos de recessão e precisando cimentar apoio entre o empresariado para enfrentar a crise política, o governo Dilma Rousseff decidiu voltar a usar bancos públicos para conceder crédito a juros baixos para setores da economia em dificuldades, como a indústria automotiva.

A polêmica medida, adotada em seu primeiro mandato e abandonada sob críticas, faz parte de um programa ainda maior, que está sendo costurado por Aloizio Mercadante (Casa Civil) com participação das pastas da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Nesta terça-feira (18), a Caixa implementou as primeiras medidas do programa ao anunciar linhas de crédito com taxas de juros menores para quem se comprometer a não demitir funcionários.

Nesta quarta (19), o Banco do Brasil lançará ações semelhantes, a taxas mais próximas das de mercado.

Entre 2008 e 2014, a prática era comum. Foi desmontada com a chegada de Joaquim Levy à Fazenda, após a reeleição de Dilma.

O pacote vem após as duas maiores entidades industriais do país, a Fiesp e a Firjan, divulgarem apoio público à governabilidades, e grandes empresários se movimentarem para apoiar a presidente Dilma.

Segue-se também ao apoio explícito do até então rebelde presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a uma agenda de consenso.

Uma ala do governo defende que, sem a volta do crescimento, o governo não elevará sua receita e continuará tendo dificuldades para reequilibrar as contas (leia sobre arrecadação na pág. A19).

Joaquim Levy, por seu lado, afirmou em entrevista à TV Record não acreditar em PIB negativo em 2016.

“A economia brasileira, com a diversidade de empresas, com as pessoas que querem trabalhar, com as nossas riquezas, agricultura sempre indo muito bem, a gente tem como vencer e não ter mais recessão no ano que vem.”

RESPIRO

A Caixa vai liberar cerca de R$ 5 bilhões somente para o setor automotivo. Outros 11 setores estão em negociação (veja quadro ao lado).

A presidente do banco, Miriam Belchior, afirmou que o objetivo é ajudar as empresas a “respirar”. “Foi debatido inclusive com a Fazenda. É uma posição de consenso do governo”, afirmou.

Levy, que defende que o setor financeiro privado ocupe o espaço de financiador de investimentos no país, era visto na tarde de terça-feira (18) como derrotado no debate.

O setor automotivo terá quatro linhas: antecipação de recursos para fornecedores de montadoras, dinheiro para despesas do setor no segundo semestre, financiamento de máquinas novas e usadas e renovação de frota (transporte coletivo, máquinas agrícolas e caminhões).

Em três delas, as prestações começam a ser pagas daqui a seis meses, quando o governo espera uma retomada (veja detalhes das linhas no quadro ao lado).

As taxas mínimas serão dadas a empresas que se comprometerem a não demitir durante o prazo do empréstimo –o controle será feito pela folha de pagamento.

Segundo a Folha apurou, no BB, o financiamento se dará com recursos e taxas de mercado. Empresas que mantiverem empregos e índices de inadimplência controlados terão taxas menores.

O BB dará crédito principalmente a fornecedores das empresas líderes de mercado e assinará convênio com o setor automotivo.

ENTENDA O PACOTE DE AJUDA A EMPRESAS

1 O que foi anunciado?
A Caixa e o Banco do Brasil darão crédito com juros menores a empresas em dificuldades que se comprometerem a não demitir

2 Que setores serão beneficiados?
Garantido: setor automotivo

Em negociação: petróleo e gás, alimentos, energia elétrica, eletroeletrônico, telecomunicações, fármacos, químico, papel e celulose, máquinas e equipamentos e construção civil

3 Quanto será emprestado?
A Caixa vai liberar R$ 5 bilhões somente para o setor automotivo, incluindo dinheiro próprio e recursos dos trabalhadores (FAT e FGTS).

4 Quais as condições?
Há quatro linhas na Caixa:

>> antecipação de recursos para fornecedores de montadoras, com juro a partir de 1,41% ao mês.

>> dinheiro para despesas do setor automotivo no segundo semestre, a partir de 0,83% ao mês mais TR. Os recursos virão da Caixa e do FGO (Fundo de Garantia de Operações).

>> compra de máquinas novas e usadas a 1,5% ao mês, com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)

>> renovação de frota (transporte coletivo, máquinas agrícolas e caminhões) a 9% mais TR ao ano, com dinheiro do FGTS na linha Pró-Transporte

O Banco do Brasil não detalhou o programa, mas deve usar recursos e taxas de juros de mercado

5 Qual o motivo do programa?
Uma ala do governo defende que, antes de fazer o ajuste fiscal para acertar as contas públicas, é preciso recuperar o crescimento para elevar a arrecadação.

Fonte: Folha de S.Paulo