Nos últimos dez meses, o governo depositou nos cofres dos produtores rurais R$ 201,43 bilhões, de acordo com dados do ministério da Agricultura, revelando crescimento de 12% quando comparado com igual período de 2020.

Não é novidade que o agronegócio abraçou de vez a inteligência artificial, resultando em colheitas mais rápidas e aumento do desemprego no campo.

 Imagem de lavradores utilizando enxadas para retirar erva daninhas dos pés de plantações ou mesmo abrir buracos nos campos para colocar sementes e plantar ficaram no passado. 

Sem emprego no campo, esse grande exército de boias frias veio para as grandes cidades em busca de trabalho e moradia.

Para complicar a situação, é grande a bancada de deputados que representa o agronegócio no Congresso Nacional. Em troca de apoio à política implementada pelo governo, este time de parlamentares aprova projetos aumentando o volume de dinheiro neste tipo de indústria. 

 

Lei vai ajudar Agronegócio pegar mais dinheiro no mercado financeiro

Enquanto grandes parcelas da população estão sentindo o gosto do fel da miséria, os tubarões do agronegócio prosseguem nadando velozmente. Bem representados pela bancada de políticos no Congresso Nacional, conseguiram derrubar, em junho, alguns vetos da presidência da República à Lei 14.130/2021.

Esta Lei criou o Fundo de Investimento do Agronegócio, criando mecanismos para que este tipo de indústria possa captar dinheiro no mercado financeiro. Com o texto, bem ao gosto dos milionários do campo, a indústria do agronegócio terá isenção de Imposto de Renda na fonte para as aplicações efetuadas e também para os rendimentos de cotas negociadas em Bolsas de Valores ou no mercado de Balcão Organizado. 

Do outro lado da linha, o agronegócio vai andar de braços dados com os banqueiros. Visto que o Fundo de Investimento do Agronegócio permite que qualquer recurso investido, nacional ou estrangeiro, possa direcionar o dinheiro ao setor, seja diretamente (com a compra de imóveis rurais) ou indiretamente (aplicando em ativos financeiros atrelados ao agronegócio).

Este tipo de Fundo será administrado por empresas do mercado financeiro, como bancos, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, que captarão os investidores. 

 

Incentivo ao agronegócio acelera desemprego no campo

 Por mais que o agronegócio tente mostrar, por meio de anúncio de publicidade, que é Pop, a realidade apresenta outra face bem diferente. No final de 2020, o número de desempregados neste segmento profissional atingia 1,6 milhão de pessoas sem trabalho. 

O facão cortou com mais intensidade na produção florestal, café, produtos e móveis de madeira, papel e celulose, bebidas na agroindústria agrícola e outros tipos de lavoura. 

As perdas mais acentuadas ocorreram no ramo agrícola, seja na agricultura dentro da porteira ou na agroindústria. O desemprego no campo e na cidade apresenta diferenças. Geralmente na agricultura, o trabalhador reside em municípios sem muitas alternativas profissionais. 

Ou seja, perdeu o posto naquela empresa, dificilmente vai encontrar outro emprego facilmente. Opostos dos grandes centros, onde mesmo em meio à crise provocada pela pandemia, as pessoas conseguem obter algum ganho em subempregos. No campo, essa possibilidade é difícil. 

 

Agricultura familiar sofre corte de dinheiro

 Enquanto o agronegócio continua recebendo bilhões do governo, o financiamento da agricultura familiar perdeu R$ 1,35 bilhão no orçamento federal, com apenas metade da verba para o Programa de Aquisição de Alimentos sendo usada em 2020. 

Em março de 2021, no relatório aprovado pelo Congresso Nacional, a destinação orçamentária para o Plano Safra, inicialmente prevista em R$ 10,3 bilhões, sofreu corte de 26%, caindo para R$ 7,55 bilhões. 

O Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) teve corte de R$ 1,3 bilhão, com sua destinação inicial reduzida de R$ 3,85 bilhões para R$ 2,5 bilhões. Essa verba é usada para financiar plantio e também sustentar empréstimos nas linhas Pronaf que chegam a superar R$ 30 bilhões. 

De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE, a agricultura familiar é praticada em 77% das propriedades produtivas e em 23% da área agrícola do Brasil, garantindo renda e alimento para 10 milhões de brasileiros. 

Este tipo de agricultura é direcionado ao mercado interno, custando ao governo R$ 40 mil/ano, mantendo uma média de três pessoas ocupadas por ano. 

Em São Paulo, 78% dos agricultores são pequenos e cerca de 90% utilizam o Pronaf. Os repasses a este programa já eram insuficientes, agora ficou à beira do caos.  Outra sacanagem do governo foi retirar dinheiro do Programa de Aquisição de Alimentos, que tinha previsão de R$ 101 milhões para 2021. O valor ideal era R$ 1 bilhão. 

 

Tecnologia acelera eliminação de postos de trabalho no campo

Do plantio à colheita, a tecnologia chegou às grandes lavouras espalhadas por grandes glebas de terras em todo o Brasil. Os patrões do agronegócio conseguem controlar à distância o que está acontecendo, em tempo real, em suas fazendas. 

Os tratores, que aram a terra, as máquinas que colhem, os caminhões que transportam a produção até os galpões, estão munidos de tecnologia de ponta. Em alguns casos, os caminhões são autônomos, se locomovendo sem a presença de motoristas. 

Programas de computadores indicam qual a melhor época para o início do plantio, quantidade ideal de produtos químicos para eliminação de pragas e qual melhor período para efetivar a colheita. Tudo com número de reduzido de mão de obra, na maioria das vezes ganhando baixos salários. 

 

Transporte de produção contribui para degradação de rodovias

Para retirar a produção do campo e transportar até aos grandes centros comerciais. Oposto do que ocorre nos Estados Unidos e diversos países da Europa, o Brasil continua apostando no uso de caminhões, principalmente os de 42 toneladas. Em vez de ferrovias, cujos trens têm capacidade de levar, de um só vez, mais cargas do que diversas carretas. 

Como no século passado, várias rodovias do Interior do Brasil ainda estão sem asfaltamento. Em época de chuva, são famosos os lamaçais em que os caminhões bitrens (duas carretas) caem e precisam ser rebocados por tratores. Os preços salgados dos pedágios, o custo de combustível, desgaste de pneus, peças e fretes estouram no bolso do consumidor. 

O peso deste tipo de caminhão provoca rachaduras e abertura de buracos nas rodovias, dificultando o trânsito de veículos de pequeno porte. Por outro lado, este tipo de dificuldade facilita a barganha junto aos governantes nas reivindicações de obras de revitalização. 

 Os tubarões aproveitam essa brecha para, por meio da bancada do agronegócio, obterem mais dinheiro do governo, através de Projetos de Lei, com a desculpa já antiga de acelerar o escoamento da produção do campo para as cidades e exportações. 

 

  Tecnologia do campo castiga bolso do consumidor 

A tecnologia utilizada pela indústria do agronegócio beneficia as exportações. Em vez de o consumidor encontrar produtos, a preços baixos, nas feiras e supermercados, cada vez desembolsa mais dinheiro para trazer menos quantidade de alimentos para casa. 

Exemplo disto é o leite de caixinha longa vida, que a cada semana dobra o valor do preço. Os grãos, principalmente o feijão, já passaram dos R$ 6,00 o quilo no comércio. Outro exemplo é o pacote de 5 quilos de arroz, sendo o mais “em conta” a R$ 19,00, não raro o preço atingir os R$ 30,00.

No caso das verduras, cuja produção é regada com equipamentos de ponta, driblando mesmo os longos períodos de seca, a carestia marca presença com o pé de brócolis a R$ 7,00; couve-flor, R$ 5,00; e os legumes como tomate a R$ 8,00 o quilo, cenoura a R$ 4,49; beterraba, R$ 3,59. 

A laranja, com a maior parte da produção vendida ao mercado estrangeiro, tem o quilo mais “barato” a R$ 3,59. Em algumas feiras livres, dependendo da região da cidade, o preço pode chegar a R$ 5,60. Para quem gosta de café, o quilo da marca menos famosa no mercado, gira em torno dos R$ 7,90.