As recentes licitações da Petrobras para a contratação da instalação da unidade de processamento de gás natural (UPGN) do Comperj, no Rio de Janeiro, e para a construção das plataformas de produção de petróleo dos campos de Libra e Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos, que incluíram empresas estrangeiras, reacenderam a discussão sobre a manutenção de mão de obra no setor petrolífero brasileiro.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), entre 2013 e 2015 foi observada uma redução de mais de 15 mil postos de trabalho no mercado de petróleo, gás natural e indústria naval no Rio de Janeiro. Desse total, 10 mil postos são relativos à área naval e 5 mil à atividades de exploração e produção de óleo e gás. Os dados não incluem números relativos a 2016. “Espera-se que para o ano [2016] o saldo seja ainda mais negativo”, destacou a instituição, em documento sobre o assunto.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o setor de atividade extrativa mineral (que inclui petróleo, gás e mineração) fechou 11.888 vagas no país em 2016.
No fim do ano passado, a Firjan encabeçou um grupo de 14 associações e entidades representantes da indústria para lançar o “Movimento Produz Brasil”. O objetivo é defender o conteúdo local como um dos mecanismos de política industrial e ressaltar a contribuição da produção nacional na geração de emprego, renda e arrecadação de impostos.
Na ocasião do lançamento da iniciativa, o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, chamou a atenção para a necessidade de urgência que o governo precisa ter para discutir medidas de manutenção de empregos na cadeia de petróleo e gás do país. “Gostaria que o presidente [Temer] entendesse a urgência e o drama sobre o qual estamos debruçados”, disse o executivo, na época, em seu discurso mais contundente em relação ao governo até então.
Preocupada com a manutenção de empregos no setor, a recém-criada Associação Brasileira de Engenharia da Construção Onshore, Offshore e Naval (Abecoon) planeja criar cursos para engenheiros e técnicos da área desempregados para não deixarem o segmento.
Os cursos incluem também aulas de planejamento financeiro, para que esses profissionais se equilibrem do ponto de vista financeiro, durante o período de falta de vagas no setor.
“Esses profissionais que estão ficando desempregados acabam indo para outras atividades e, daqui a dois ou três anos, o mercado é sazonal, se não dermos capacitação continuada para esses profissionais, não teremos profissionais bons no mercado para essa nova onda que pode vir”, diz o presidente da Abecoon, Maurício Almeida.
“Acabar com o conteúdo local, com o waiver [perdão pelo não cumprimento dos índices de conteúdo local] que a Petrobras está pedindo [à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)], acho que é radicalização demais. Fazer tudo no Brasil também é radicalização demais”, completa ele.
Em nota divulgada segunda-feira, a Petrobras destacou que a recuperação da economia brasileira passa pela retomada de investimentos e geração de empregos. A companhia esclareceu ainda que a Constituição brasileira não diferencia empresas de acordo com a origem de seu capital.
“O emprego gerado por essas companhias [estrangeiras] é tão necessário e tão bem-vindo quanto qualquer outro. A disposição do setor privado em investir colabora para que o país saia da mais longa recessão da nossa história provocada por experimentos que, travestidos de apoios e estímulos, se provaram fracassados”, ressaltou a estatal.