Após um período de “contenção” dos preços do etanol nos postos de combustíveis do país, as distribuidoras começaram a repassar ao varejo a alta do produto nas usinas, o que provocou um encarecimento generalizado do biocombustível aos motoristas na semana passada.
Conforme levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os preços médios do etanol hidratado (usado diretamente nos tanques dos veículos) subiram aos consumidores em 20 Estados na semana encerrada no dia 8. O movimento foi mais abrangente que na semana anterior, quando os preços avançaram em 14 Estados.
A tendência reflete uma valorização que o etanol hidratado vem apresentando nas usinas já há seis semanas. No período de 3 a 7 de outubro, o indicador Cepea/Esalq para o produto negociado no Estado de São Paulo – que lidera a oferta nacional – ficou em R$ 1,7604 o litro, com altas de 1,76% sobre a semana anterior e de 13,77% em seis semanas. E essa valorização deve continuar a ser repassada aos postos, dado que costuma haver uma diferença de duas semanas para o amadurecimento dessa transferência, de acordo com Martinho Ono, presidente da SCA Trading.
A produção de etanol está menor nesta safra porque as usinas estão priorizando a fabricação de açúcar, que está mais rentável. Além disso, a perspectiva de uma safra mais curta também vem antecipando a alta dos preços.
Em São Paulo e Minas, principais polos de consumo de etanol no país, os preços aos motoristas passaram a representar mais de 70% dos da gasolina na última semana, o que afeta a competitividade do biocombustível. A maior parte do mercado considera que o etanol precisa custar até 70% do preço da gasolina para ser economicamente mais vantajoso.
Mas, nos dois Estados, ainda há uma diferença absoluta que pesa favoravelmente ao etanol. “Em alguns locais, enquanto o diferencial for superior a R$ 1, a demanda continua”, diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica).
Nos postos paulistas, o preço do etanol ficou em R$ 2,422 o litro na semana passada, alta de 1,42% em relação ao período anterior, mas com uma diferença de R$ 1,03 em relação à gasolina. Em Minas, o aumento foi de 2,9%, para R$ 2,625 o litro, com uma diferença de R$ 1,06 para o combustível fóssil.
De qualquer forma, a confirmação do movimento ascendente dos preços do etanol em breve deve começar a ter um efeito negativo sobre o consumo, que já está menor neste ano. A perspectiva é que os volumes vendidos encolham um pouco mais até o fim do ano, avalia Pádua. Para o diretor da Unica, o volume de venda de etanol hidratado nos próximos meses deverá cair de 15% e 20% na comparação com a média mensal vendida até agora – aproximadamente 1,3 bilhão de litros.