Incerteza sobre ajuste das contas públicas e Datafolha que mostrou rejeição recorde de Dilma pressionam moeda

O Banco Central decidiu aumentar o ritmo de intervenção no mercado de câmbio após o dólar fechar nesta quinta (6) em R$ 3,53, o maior valor nominal (sem descontar a inflação) em mais de 12 anos. Foi o sexto dia seguido de valorização da moeda.

Para conter a alta do dólar, o BC anunciou, no início da noite, aumento na oferta de contratos conhecidos como “swap cambial”.

Os papéis funcionam como um seguro para quem quer se proteger de uma forte alta do dólar, desincentivando a procura pela moeda e, assim, impedindo que ela suba mais.

Antes desse anúncio, o BC mantinha a disposição de diminuir, gradualmente, a oferta desses contratos. A expectativa, até então, era que a oferta desses papéis fosse suficiente para renovar só 60% dos contratos existentes.

Para o leilão desta sexta (7), porém, o BC elevou de 6.000 para 11 mil o volume de contratos. Se mantiver o novo ritmo até o fim do mês, o BC vai renovar praticamente 100% do lote desses contratos que vence em setembro.

RECORDE

O dólar chegou a bater em R$ 3,57 nesta quinta após a pesquisa Datafolha mostrar que a reprovação à presidente Dilma Rousseff (PT) superou as piores marcas registradas por Fernando Collor (1990-1992) às vésperas do impeachment.

A moeda só perdeu força após o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, afirmar que o mercado de câmbio estava agindo com “pouca racionalidade”.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,12% e terminou negociado a R$ 3,533 –maior cotação desde 5 de março de 2003, quando encerrou a R$ 3,555 (valor que, corrigido, equivale hoje a R$ 5,44). No ano, a alta da moeda chega a 31%.

O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, subiu 1,28% e fechou em R$ 3,535, também no maior nível nominal desde 5 de março de 2003.

O real foi a moeda emergente com maior desvalorização nesta quinta, segundo a Bloomberg. Das 24 principais moedas emergentes, apenas 5 perderam valor diante da divisa americana.

Nos últimos 15 pregões, sob a expectativa da redução da meta fiscal (que caiu de 1,1% do PIB para 0,15%), a moeda americana subiu 11%, a maior disparada em um período similar desde março.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Invx Global Partners, a pesquisa Datafolha aumentou a pressão da oposição pela abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma.

“O Congresso sente o isolamento do governo e o descontentamento com a presidente. Isso eleva a probabilidade de assumir uma posição contrária aos ajustes defendidos pelo governo”, afirma.

Fonte: Folha de S.Paulo