A resistência da presidente Dilma Rousseff a substituir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai além do inconveniente de fazer mudanças em plena votação das medidas do ajuste fiscal.
Dilma avalia que trocar Levy pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é o mesmo que entregar o governo para Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político.
Após muita insistência, na linha “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, Lula conseguiu tirar os superpoderes de Aloizio Mercadante e encaixar no núcleo duro do Palácio do Planalto os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), dois petistas de sua inteira confiança.
Dilma sabe que, se ceder agora o comando da economia, passará a imagem de que virou uma rainha da Inglaterra, justamente no momento em que busca recuperar popularidade.
Diante da rebeldia da afilhada, que disse não concordar com tudo o que seu padrinho diz, Lula começou a negar com mais ênfase que tenha indicado Meirelles para o lugar de Levy. O desmentido em público, porém, não condiz com suas ações nos bastidores para emplacar o ex-presidente do Banco Central na cadeira hoje ocupada pelo ex-executivo do Bradesco.
Meirelles ficou envaidecido com a lembrança de seu nome por Lula, com quem trabalhou oito anos, mas não foi convidado por Dilma. Ela até admite que, se a economia degringolar, terá de dispensar Levy em 2016, mas não tem afinidade com o preferido do ex-presidente.
Há nove dias, porém, no auge dos rumores sobre a troca na Fazenda, Meirelles não escondeu a satisfação com o impacto da boataria no mercado. Ao ser flagrado conferindo uma notícia no seu celular, minutos após aparecer ao lado de Levy na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, ele exclamou: “Oh, o dólar está caindo!”.