Apesar de um pouco melhor que a expectativa, Pnad Contínua do trimestre até maio ainda não indica fundo do poço do mercado de trabalho, segundo analistas.

A taxa de desemprego no trimestre março-abril-maio da Pnad Contínua, de 11,2%, veio um pouco melhor do que a média das expectativas, mas os analistas de forma geral não enxergaram mudança no quadro geral de continuidade da deterioração do mercado de trabalho.

Em termos dessazonalizados, pelas contas do economista e consultor Alexandre Schwartsman, houve um avanço de 10,6% para 10,8% no desemprego na comparação entre os trimestres terminados no final de maio e de abril. Em relatório publicado esta manhã, Schwartsman nota que este ritmo de aumento de 0,2 ponto porcentual por mês no desemprego da Pnad, sazonalmente ajustado, vem ocorrendo em média desde o início de 2015. O consultor prevê que o desemprego com ajuste sazonal chegue a um pico de 13,6% no último trimestre de 2016, levando a média deste ano para 11,7%.

Na comparação com o mesmo período de 2015, a taxa de desemprego da Pnad Contínua aumentou cerca de 3,1 pontos porcentuais. Em seu relatório, Schwartsman decompôs este crescimento em 1,2 ponto porcentual (pp) devido à queda do emprego; 1,3 pp ao aumento da população em idade de trabalhar, PIA; e 0,7 pp ao aumento da taxa de participação (força de trabalho como proporção da PIA). A queda do emprego, naquela base de comparação, foi de 1,3 milhão de postos de trabalho, ou um recuo de 1,4%.

Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX, diz que a Pnad Contínua veio melhor que o esperado, mas não muda sua visão da evolução do mercado de trabalho. Ela nota que a população ocupada (PO) ficou estável (ante o trimestre anterior, isto é, dezembro, janeiro e fevereiro), mas houve aumento de 10,3% (mais 1,1 milhão), na mesma base de comparação, na população desocupada. “Esperava-se que a população empregada caísse, mas isso não muda o quadro de piora – os entrantes não estão conseguindo vagas”, ela diz. Solange observa ainda que uma piora menor na renda real do trabalho deveu-se à queda da inflação acumulada, e não ao aumento do rendimento nominal.

O economista Bruno Vaz, que acompanha o mercado de trabalho no Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), relata que tinha uma projeção mais forte para o desemprego da Pnad Contínua no trimestre até maio, de 11,5%, em boa parte devida a um motivo específico: o aumento do emprego por conta própria, que vinha compensando parcialmente as perdas nos postos com carteira (e até sem), sofreu uma reversão em abril. Isso o levou a trabalhar com a hipótese de que este efeito compensatório tinha arrefecido por conta da dinâmica progressiva de piora do mercado de trabalho. Mas em maio o emprego por conta própria voltou a ter crescimento expressivo.

Todos os analistas ouvidos concordam em que os primeiros sinais de que a economia pode inverter o sinal negativo em algum momento deste ano, possivelmente mais para o fim, não significam uma recuperação sincronizada do mercado de trabalho. O motivo é a conhecida defasagem entre as tendências da atividade econômica e do emprego, com esta seguindo atrás. A visão é de que o desemprego médio da Pnad-Contínua em 2016 pode ficar em 11,5% ou pouco mais, com um pico da taxa trimestral, que pode ser acima de 13%, em 2017 ou final de 2016. Solange acha que, na comparação das médias entre 2016 e 2017, o próximo ano já pode apresentar uma ligeira queda do desemprego. Uma recuperação mais significativa do mercado de trabalho, no entanto, só se refletiria na média de 2018. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast